Lançamento de livro e cd marcam homenagens ao artista plástico e líder religioso
Na última sexta-feira (21) foi lançado, no Palacete das Artes em Salvador, o livro “Mestre Didi, 90 anos: autos coreográficos”, publicação que reúne fotografias, composições alegóricas do Candomblé e um cd com cânticos gravados pelo líder religioso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi. Sem conceder entrevistas desde 1975, quando recebeu o título de Alapini, o mais alto grau da hierarquia da representação nagô, o autor completou nove décadas no início deste mês.
Para marcar a passagem do aniversário do artista plástico, a Sociedade de Estudos de Cultura Negra no Brasil (SECNEB) em parceria com a Editora Corrupio, promoveu noite de autógrafos que contou a presença de artistas, povo de santo e admiradores da vida e obra do autor. Durante o lançamento houve uma performance do coreógrafo norte-americano Clyde Morgan, um dos grandes colaboradores do mestre. “Quando cheguei ao Brasil nos anos 70, o trabalho de Didi foi o primeiro que encontrei com profundidade filosófica”, declara Morgan. “Ele é único porque sua sensibilidade consegue transformar toda sua sabedoria numa linguagem acessível, mas sem torná-la simplista”, conclui.
Afirmando ser impossível sintetizar o que representa o trabalho do Mestre Didi, a historiadora Vanda Machado acredita que o líder é o grande pai da família afro-brasileira. “Sua postura patriarcal tem muito também de liderança política. Seu nome será sempre uma referência obrigatória dentro da cultura afro-religiosa em todo o mundo”, afirma. Já Arlete Soares, editora-chefe da Corrupio, destacou o esforço conjunto para que a homenagem fosse concretizada. “Sem a união daqueles que reconhecem o trabalho de um artista desse porte, a publicação teria sido inviável, principalmente sem o apoio do Fundo de Cultura”, concluiu.
Tradição e Arte
Único filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, Mestre Didi é o mais antigo descendente brasileiro do reino africano de ketu. Autor de uma série de livros, o artista já expôs suas esculturas e instalações nas mais importantes bienais do Brasil e do exterior. Seus trabalhos, feitos de materiais como búzios africanos, contas vegetais, palha da costa e couro, recriam as simbologias e emblemas do culto nagô. A antropóloga argentina, Juanita Elbein dos Santos, esposa do Mestre Didi há quase 40 anos, além de sua grande incentivadora, foi a organizadora do livro. Ela acredita que o mais importante para o marido é a gratidão das pessoas. “Ter o trabalho reconhecido e valorizado é o sonho de todo artista”, afirmou.
Foto: Divulgação
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Bahia Afro Film Festival
Com quase um ano de antecedência, Festival de Cinema Afro é lançado em Salvador
O Bahia Afro Film Festival, Festival Internacional de Cinema Afro, foi lançado na noite desta segunda-feira (10) no Palácio da Aclamação em Salvador, e contou com a presença de cineastas, atores e alunos de uma oficina promovida pela Casa de Cinema da Bahia. Programado para os dias 18 a 27 de novembro de 2008, a antecedência de quase um ano visa buscar patrocinadores e parcerias que coloquem em prática a série de atividades previstas.
A coordenadora executiva do evento, Ruybella Carteado, afirmou que um dos objetivos do projeto é movimentar o panorama da produção de filmes e vídeos na Bahia com enfoque central na população afrodescendente. “Tive essa idéia quando retornei de Nova Iorque. Queríamos agitar o cenário do cinema com um produto bem articulado, além de estimular o turismo étnico”, declarou.
O festival, que teve como mestre de cerimônias a atriz Zezé Motta, apresentou ainda um dos destaques da sua programação. Vinte e cinco jovens alunos de comunidades carentes receberam diplomas e apresentaram vídeos produzidos por eles na oficina “O Negro e o Cinema”, ministrada pela Casa de Cinema da Bahia. Durante vinte dias, eles aprenderam técnicas cinematográficas, como roteiro, direção e edição de curtas-metragens. Rafael Manga, 19, era um dos mais empolgados ao receber seu certificado. “Isso representa para mim uma conquista pessoal e o início de uma carreira que sonho desde criança”, afirmou.
Homenagens
Além da exibição dos vídeos produzidos pelos alunos da Casa de Cinema, diversas pessoas receberam o troféu Zumbi dos Palmares, pelo reconhecimento ao trabalho dedicado à sétima arte. Entre os homenageados estavam Guido Araújo, organizador do Festival de Cinema da Bahia, e Walson Nascimento, um operador de cinema aposentado que se dedica a exibir gratuitamente para os moradores do bairro de São Cristóvão. Após 35 anos de trabalho projetando filmes em cinemas do centro da cidade, Walson comprou o próprio projetor e montou uma sala de vídeo no fundo de sua casa. “Temos espaço para cinqüenta pessoas que quiserem assistir filmes de graça todas as quartas e sábados”, declarou.
Para acessar o site do Bahia Afro Film Festival, clique aqui
Fotos: Tom Correia
O Bahia Afro Film Festival, Festival Internacional de Cinema Afro, foi lançado na noite desta segunda-feira (10) no Palácio da Aclamação em Salvador, e contou com a presença de cineastas, atores e alunos de uma oficina promovida pela Casa de Cinema da Bahia. Programado para os dias 18 a 27 de novembro de 2008, a antecedência de quase um ano visa buscar patrocinadores e parcerias que coloquem em prática a série de atividades previstas.
A coordenadora executiva do evento, Ruybella Carteado, afirmou que um dos objetivos do projeto é movimentar o panorama da produção de filmes e vídeos na Bahia com enfoque central na população afrodescendente. “Tive essa idéia quando retornei de Nova Iorque. Queríamos agitar o cenário do cinema com um produto bem articulado, além de estimular o turismo étnico”, declarou.
O festival, que teve como mestre de cerimônias a atriz Zezé Motta, apresentou ainda um dos destaques da sua programação. Vinte e cinco jovens alunos de comunidades carentes receberam diplomas e apresentaram vídeos produzidos por eles na oficina “O Negro e o Cinema”, ministrada pela Casa de Cinema da Bahia. Durante vinte dias, eles aprenderam técnicas cinematográficas, como roteiro, direção e edição de curtas-metragens. Rafael Manga, 19, era um dos mais empolgados ao receber seu certificado. “Isso representa para mim uma conquista pessoal e o início de uma carreira que sonho desde criança”, afirmou.
Homenagens
Além da exibição dos vídeos produzidos pelos alunos da Casa de Cinema, diversas pessoas receberam o troféu Zumbi dos Palmares, pelo reconhecimento ao trabalho dedicado à sétima arte. Entre os homenageados estavam Guido Araújo, organizador do Festival de Cinema da Bahia, e Walson Nascimento, um operador de cinema aposentado que se dedica a exibir gratuitamente para os moradores do bairro de São Cristóvão. Após 35 anos de trabalho projetando filmes em cinemas do centro da cidade, Walson comprou o próprio projetor e montou uma sala de vídeo no fundo de sua casa. “Temos espaço para cinqüenta pessoas que quiserem assistir filmes de graça todas as quartas e sábados”, declarou.
Para acessar o site do Bahia Afro Film Festival, clique aqui
Fotos: Tom Correia
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Blocos Afros: ação social e militância no carnaval da Bahia
Militantes históricos do movimento negro na Bahia divulgam realizações de inclusão social
Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado nesta quinta-feira (29) no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.
Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.
Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.
Revolução Olodum
“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.
Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.
Foto: Tom Correia
Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado nesta quinta-feira (29) no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.
Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.
Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.
Revolução Olodum
“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.
Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.
Foto: Tom Correia
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Página virtual dos Terreiros de Salvador já pode ser acessada
Após oito meses de pesquisa, secretarias municipais lançam site com dados de 1.159 Terreiros de diversas nações
Uma parceria entre a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), de Habitação (Sehab), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir) e a Fundação Palmares, promoveu nesta quarta-feira (28), o lançamento do site do Mapeamento dos Terreiros de Salvador. O evento, transmitido ao vivo pela internet direto da Praça Municipal, encerrou as comemorações do Novembro Negro e contou com a presença de diversos representantes de casas religiosas e autoridades do poder público.
A pesquisa, coordenada pelo historiador Jocélio Teles, durou oito meses e foi realizada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao). O objetivo era fazer uma radiografia das casas religiosas em atividade em Salvador e na Ilha de Maré, levantando dados sócio-ambientais e culturais, além de identificar as nações de cada uma delas. Ainda assim, houve alguma resistência. “Cerca de 30 terreiros se recusaram a participar e isso ainda é um reflexo da perseguição sofrida por eles no passado”, afirmou Teles. No total, foram registrados 1.159 Terreiros, a maioria deles localizados em bairros como Plataforma, Cajazeiras, Paripe, Liberdade e Cosme de Farias.
Para o Pai Raimundo, do Centro Umbandista Paz e Justiça, iniciativas como as do mapeamento de Terreiros é a confirmação de um lugar que sempre pertenceu aos adeptos das religiões de matrizes africanas. “Não estamos pedindo nada, merecemos uma posição de destaque na sociedade e agora estamos nos aliando às novas tecnologias”, declarou. Ele ainda se queixou da falta de união entre o povo de santo. “Hoje esta praça deveria estar lotada”, concluiu.
O subsecretário da Semur, Antônio Cosme, acredita que ações originadas pela Prefeitura representam um avanço sem precedentes na história de Salvador. “O Estado sempre perseguiu o Candomblé. Hoje, esse mesmo Estado promove a reparação disponibilizando meios democráticos de acesso à informação”, disse. Para ele, um site com conteúdo afro-religioso pode despertar o interesse das comunidades pela tecnologia, minimizando a exclusão digital na capital baiana.
Para acessar o site do Mapeamento dos Terreiros, clique aqui
Uma parceria entre a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), de Habitação (Sehab), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir) e a Fundação Palmares, promoveu nesta quarta-feira (28), o lançamento do site do Mapeamento dos Terreiros de Salvador. O evento, transmitido ao vivo pela internet direto da Praça Municipal, encerrou as comemorações do Novembro Negro e contou com a presença de diversos representantes de casas religiosas e autoridades do poder público.
A pesquisa, coordenada pelo historiador Jocélio Teles, durou oito meses e foi realizada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao). O objetivo era fazer uma radiografia das casas religiosas em atividade em Salvador e na Ilha de Maré, levantando dados sócio-ambientais e culturais, além de identificar as nações de cada uma delas. Ainda assim, houve alguma resistência. “Cerca de 30 terreiros se recusaram a participar e isso ainda é um reflexo da perseguição sofrida por eles no passado”, afirmou Teles. No total, foram registrados 1.159 Terreiros, a maioria deles localizados em bairros como Plataforma, Cajazeiras, Paripe, Liberdade e Cosme de Farias.
Para o Pai Raimundo, do Centro Umbandista Paz e Justiça, iniciativas como as do mapeamento de Terreiros é a confirmação de um lugar que sempre pertenceu aos adeptos das religiões de matrizes africanas. “Não estamos pedindo nada, merecemos uma posição de destaque na sociedade e agora estamos nos aliando às novas tecnologias”, declarou. Ele ainda se queixou da falta de união entre o povo de santo. “Hoje esta praça deveria estar lotada”, concluiu.
O subsecretário da Semur, Antônio Cosme, acredita que ações originadas pela Prefeitura representam um avanço sem precedentes na história de Salvador. “O Estado sempre perseguiu o Candomblé. Hoje, esse mesmo Estado promove a reparação disponibilizando meios democráticos de acesso à informação”, disse. Para ele, um site com conteúdo afro-religioso pode despertar o interesse das comunidades pela tecnologia, minimizando a exclusão digital na capital baiana.
Para acessar o site do Mapeamento dos Terreiros, clique aqui
Foto: Tom Correia
terça-feira, 27 de novembro de 2007
“Espaço Vovó Conceição” é aberto a todos os segmentos sociais e religiosos
Terreiro Casa Branca oferece cursos gratuitos à comunidade num ambiente familiar e de tolerância religiosa.
Aprender técnicas de corte e costura, bordado, roupas de orixás e panos da costa num ambiente onde a diversidade é bem vinda. Dessa forma pode ser definido o Espaço Vovó Conceição, inaugurado em março deste ano por Dona Cinha, ekede do Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca) , localizado na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. Segundo a coordenadora do espaço, a idéia do projeto já tem mais de 20 anos, mas somente pôde ser realizado com o apoio de uma ONG que vem estimulando ações comunitárias em quinze terreiros da capital baiana.
Em abril passado foi iniciada a primeira turma de corte e costura em parceria com a ONG carioca “Koinonia", que cedeu catorze máquinas de costura, tecidos, linhas e acessórios. “O nosso objetivo é preservar a tradição das comunidades dos terreiros e valorizar as iniciativas de capacitação que se transformem em fontes de renda para as pessoas”, declarou Mara Vanessa, coordenadora pedagógica da organização em Salvador. Das quarenta inscritas, apenas quatro não se formaram porque conseguiram emprego.
Para Dona Cinha, o projeto, além de realizar um sonho antigo, também resgata a antiga tradição das comunidades do axé, que sempre produziram suas próprias roupas e adereços dos orixás. “Ultimamente, estamos comprando roupas no Mercado Modelo e no Pelourinho na mão de pessoas que não têm nada a ver com a nossa religião. As roupas de orixás precisam de um tratamento diferenciado, já que a energia de quem faz as roupas é diferente de quem apenas comercializa os produtos”, disse a ekede. Em relação às diferenças sociais e religiosas das alunas, ela é taxativa: “O Candomblé é a religião do amor e do respeito ao próximo, independente de cor, raça, opção sexual, de situação financeira. Estamos abertos a todos os segmentos sociais, sempre com respeito”.
Sem ser adepta de nenhuma religião, a professora Maria José ressalta a transformação das alunas oriundas de famílias preconceituosas em relação ao Candomblé. “Elas chegam aqui desconfiadas, resistentes, esperando encontrar algum tipo de monstro. Mas com o tempo elas percebem a energia da casa, da proposta do espaço e passam a fazer parte da nossa família”. Ela afirmou ainda que no espaço há o costume de ouvir umas às outras para identificar as necessidades e uma maneira de ajudar o outro.
Novas Turmas
Funcionando de segunda a quinta, o Vovó Conceição promove às sextas uma troca de conhecimento entre as alunas: quem sabe fazer algo ensina às colegas. Desde bolsas, bonecas, até a bainha aberta, uma espécie de bordado a mão para panos da costa. Também estão no programa aulas de Direito e Cidadania. A aluna Lícia Santos, pertencente ao Terreiro Oxumaré, freqüentou as aulas de corte e costura e pretende se tornar uma empreendedora. “Quero abrir meu próprio ateliê para produzir roupas e acessórios que aprendi a fazer aqui”, declarou. Entre e fevereiro e março de 2008, uma nova turma deverá ser montada e novos cursos deverão ser oferecidos gratuitamente.
Aprender técnicas de corte e costura, bordado, roupas de orixás e panos da costa num ambiente onde a diversidade é bem vinda. Dessa forma pode ser definido o Espaço Vovó Conceição, inaugurado em março deste ano por Dona Cinha, ekede do Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca) , localizado na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. Segundo a coordenadora do espaço, a idéia do projeto já tem mais de 20 anos, mas somente pôde ser realizado com o apoio de uma ONG que vem estimulando ações comunitárias em quinze terreiros da capital baiana.
Em abril passado foi iniciada a primeira turma de corte e costura em parceria com a ONG carioca “Koinonia", que cedeu catorze máquinas de costura, tecidos, linhas e acessórios. “O nosso objetivo é preservar a tradição das comunidades dos terreiros e valorizar as iniciativas de capacitação que se transformem em fontes de renda para as pessoas”, declarou Mara Vanessa, coordenadora pedagógica da organização em Salvador. Das quarenta inscritas, apenas quatro não se formaram porque conseguiram emprego.
Para Dona Cinha, o projeto, além de realizar um sonho antigo, também resgata a antiga tradição das comunidades do axé, que sempre produziram suas próprias roupas e adereços dos orixás. “Ultimamente, estamos comprando roupas no Mercado Modelo e no Pelourinho na mão de pessoas que não têm nada a ver com a nossa religião. As roupas de orixás precisam de um tratamento diferenciado, já que a energia de quem faz as roupas é diferente de quem apenas comercializa os produtos”, disse a ekede. Em relação às diferenças sociais e religiosas das alunas, ela é taxativa: “O Candomblé é a religião do amor e do respeito ao próximo, independente de cor, raça, opção sexual, de situação financeira. Estamos abertos a todos os segmentos sociais, sempre com respeito”.
Sem ser adepta de nenhuma religião, a professora Maria José ressalta a transformação das alunas oriundas de famílias preconceituosas em relação ao Candomblé. “Elas chegam aqui desconfiadas, resistentes, esperando encontrar algum tipo de monstro. Mas com o tempo elas percebem a energia da casa, da proposta do espaço e passam a fazer parte da nossa família”. Ela afirmou ainda que no espaço há o costume de ouvir umas às outras para identificar as necessidades e uma maneira de ajudar o outro.
Novas Turmas
Funcionando de segunda a quinta, o Vovó Conceição promove às sextas uma troca de conhecimento entre as alunas: quem sabe fazer algo ensina às colegas. Desde bolsas, bonecas, até a bainha aberta, uma espécie de bordado a mão para panos da costa. Também estão no programa aulas de Direito e Cidadania. A aluna Lícia Santos, pertencente ao Terreiro Oxumaré, freqüentou as aulas de corte e costura e pretende se tornar uma empreendedora. “Quero abrir meu próprio ateliê para produzir roupas e acessórios que aprendi a fazer aqui”, declarou. Entre e fevereiro e março de 2008, uma nova turma deverá ser montada e novos cursos deverão ser oferecidos gratuitamente.
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Moradores de antigos quilombos receberão certificado
Sessão Especial na Câmara dos Vereadores de Salvador concede voz às comunidades Quilombolas
Para marcar o início das comemorações da Semana da Consciência Negra, a Câmara Municipal de Salvador realizou na manhã desta segunda-feira (19), uma Sessão Especial com o tema “População Quilombola e a luta pelo direito à terra e à vida”. A iniciativa partiu da vereadora e militante do movimento negro, Olívia Santana, que além de apresentar representantes de doze comunidades remanescentes de quilombos, contou ainda com a participação de diversas autoridades de órgãos regionais do governo federal.
A abertura do evento foi marcada pela apresentação das Ganhadeiras de Itapuã, que mostraram ao público uma das manifestações populares mais famosas de origens africanas: o samba de roda. Para Olívia Santana, a realização da sessão especial nasceu da necessidade de despertar as populações dos grandes centros urbanos para a questão das comunidades quilombolas que vivem afastadas das capitais. “São elas [as comunidades] que mantêm viva a memória daqueles que lutaram contra a escravidão, contra a opressão”, declarou a vereadora.
Quilombos como os de Velame, Ilha de Maré, Sapiranga, Dandá, Mangal e Barro Vermelho, estiveram representados por líderes comunitários, que vieram a Salvador especialmente para participar da sessão. A representante da comunidade localizada em São Francisco do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, Maria das Dores Correia, subiu ao plenário para denunciar as dificuldades enfrentadas pelos moradores da região. “Vim aqui para dizer que não me sinto nada feliz vendo os meus irmãos passando tanta necessidade no meio de tantas terras que não produzem nada”, desabafou.
Certificação
Segundo dados mais recentes divulgados pela Fundação Palmares, existem no Brasil atualmente cerca de 1.113 comunidades identificadas, das quais 915 já possuem certificados atestando a condição de remanescentes de quilombos. Na Bahia, mais de 500 comunidades foram registradas e 209 obtiveram a certificação que protege as áreas de invasões por parte de fazendeiros, os maiores opositores ao reconhecimento das terras. “Hoje estamos trabalhando em cerca de 40 territórios quilombolas na Bahia e apesar de alguns problemas com os grandes proprietários rurais, não vamos deixar as comunidades desamparadas”, assegurou Luiz Fernandes, representante regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Foto: André Cypriano
Para marcar o início das comemorações da Semana da Consciência Negra, a Câmara Municipal de Salvador realizou na manhã desta segunda-feira (19), uma Sessão Especial com o tema “População Quilombola e a luta pelo direito à terra e à vida”. A iniciativa partiu da vereadora e militante do movimento negro, Olívia Santana, que além de apresentar representantes de doze comunidades remanescentes de quilombos, contou ainda com a participação de diversas autoridades de órgãos regionais do governo federal.
A abertura do evento foi marcada pela apresentação das Ganhadeiras de Itapuã, que mostraram ao público uma das manifestações populares mais famosas de origens africanas: o samba de roda. Para Olívia Santana, a realização da sessão especial nasceu da necessidade de despertar as populações dos grandes centros urbanos para a questão das comunidades quilombolas que vivem afastadas das capitais. “São elas [as comunidades] que mantêm viva a memória daqueles que lutaram contra a escravidão, contra a opressão”, declarou a vereadora.
Quilombos como os de Velame, Ilha de Maré, Sapiranga, Dandá, Mangal e Barro Vermelho, estiveram representados por líderes comunitários, que vieram a Salvador especialmente para participar da sessão. A representante da comunidade localizada em São Francisco do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, Maria das Dores Correia, subiu ao plenário para denunciar as dificuldades enfrentadas pelos moradores da região. “Vim aqui para dizer que não me sinto nada feliz vendo os meus irmãos passando tanta necessidade no meio de tantas terras que não produzem nada”, desabafou.
Certificação
Segundo dados mais recentes divulgados pela Fundação Palmares, existem no Brasil atualmente cerca de 1.113 comunidades identificadas, das quais 915 já possuem certificados atestando a condição de remanescentes de quilombos. Na Bahia, mais de 500 comunidades foram registradas e 209 obtiveram a certificação que protege as áreas de invasões por parte de fazendeiros, os maiores opositores ao reconhecimento das terras. “Hoje estamos trabalhando em cerca de 40 territórios quilombolas na Bahia e apesar de alguns problemas com os grandes proprietários rurais, não vamos deixar as comunidades desamparadas”, assegurou Luiz Fernandes, representante regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Foto: André Cypriano
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Fred Hamptom Jr. quer estreitar laços entre os movimentos negros
Filho de um dos fundadores dos Panteras Negras visita a Bahia pela primeira vez para estabelecer rede panafricanista
“Enquanto existir fome, AIDS, guerras e pobreza na África, todos os dias serão um 11 de setembro para nós”. Essa foi uma das afirmações de Fred Hamptom Jr. durante conferência nesta terça-feira (13) realizada na Biblioteca Pública do Estado, nos Barris. O ativista norte-americano veio ao Brasil a convite do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNC) para falar do legado deixado pelo seu pai, Fred Hamptom, assassinado aos 21 anos pela polícia de Chicago, no dia 4 de dezembro de 1969.
O tema do encontro foi “Tecendo as Redes Panafricanistas” e representantes de diversas entidades atuantes na Bahia estiveram presentes. Michel Chagas, integrante da “Campanha Reaja ou Será Morto! Reaja ou Será Morta!” acusou a política de “genocídio” praticada pelos governantes brasileiros. “Vamos transformar cada morte de negro e negra na periferia num ato político”, anunciou. Ele disse ainda que a campanha também se inspirou nas atuações nos anos 70 do grupo revolucionário negro norte-americano. Para Suzete Lima, secretária-geral do CNNC, a vinda de Hamptom Jr. veio promover um intercâmbio com as organizações envolvidas com o movimento negro no Brasil e na Bahia. “Através da história do pai dele, que ajudou a fundar os Panteras Negras, os jovens que assistiram sua palestra puderam conhecer de perto o que é lutar contra a opressão”, declarou.
Hamptom Jr. envolveu-se desde cedo na luta contra a discriminação racial do seu país e aos 20 anos já era presidente de um movimento defensor dos direitos dos negros nos Estados Unidos. Passou a ser perseguido pelo governo e terminou condenado a nove anos de prisão em “campos de concentração” do estado de Illinois. Foi libertado em 2001 e intensificou as atividades do Comitê Prisioneiros da Consciência (POCC), fundado por ele quando ainda estava na cadeia. “Hoje mantemos contato com líderes de movimentos na Tanzânia e Gana, mas também precisamos nos aproximar mais dos nossos irmãos no Brasil”, afirmou.
Panteras Negras
O partido de ambições revolucionárias foi criado por Huey Newton e Bobby Seale em 1966 na Califórnia, Estados Unidos. Originalmente o grande objetivo dos seus partidários era proteger os guetos negros das ações repressoras e violentas por parte da polícia norte-americana, mas o grupo foi se tornando cada vez mais político. Os Panteras Negras foram aos poucos se consolidando ao reivindicar do governo isenção de impostos para os negros e compensação pelos séculos de exploração pela escravatura. No auge do grupo, cerca de 2 mil ativistas elevaram a auto-estima negra com a expansão do Movimento Black Power. Em meados dos anos 80 o grupo se desfez, mas a herança deixada por líderes como Fred Hamptom permanece espalhada no mundo inteiro até hoje.
Foto: Tom Correia
“Enquanto existir fome, AIDS, guerras e pobreza na África, todos os dias serão um 11 de setembro para nós”. Essa foi uma das afirmações de Fred Hamptom Jr. durante conferência nesta terça-feira (13) realizada na Biblioteca Pública do Estado, nos Barris. O ativista norte-americano veio ao Brasil a convite do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNC) para falar do legado deixado pelo seu pai, Fred Hamptom, assassinado aos 21 anos pela polícia de Chicago, no dia 4 de dezembro de 1969.
O tema do encontro foi “Tecendo as Redes Panafricanistas” e representantes de diversas entidades atuantes na Bahia estiveram presentes. Michel Chagas, integrante da “Campanha Reaja ou Será Morto! Reaja ou Será Morta!” acusou a política de “genocídio” praticada pelos governantes brasileiros. “Vamos transformar cada morte de negro e negra na periferia num ato político”, anunciou. Ele disse ainda que a campanha também se inspirou nas atuações nos anos 70 do grupo revolucionário negro norte-americano. Para Suzete Lima, secretária-geral do CNNC, a vinda de Hamptom Jr. veio promover um intercâmbio com as organizações envolvidas com o movimento negro no Brasil e na Bahia. “Através da história do pai dele, que ajudou a fundar os Panteras Negras, os jovens que assistiram sua palestra puderam conhecer de perto o que é lutar contra a opressão”, declarou.
Hamptom Jr. envolveu-se desde cedo na luta contra a discriminação racial do seu país e aos 20 anos já era presidente de um movimento defensor dos direitos dos negros nos Estados Unidos. Passou a ser perseguido pelo governo e terminou condenado a nove anos de prisão em “campos de concentração” do estado de Illinois. Foi libertado em 2001 e intensificou as atividades do Comitê Prisioneiros da Consciência (POCC), fundado por ele quando ainda estava na cadeia. “Hoje mantemos contato com líderes de movimentos na Tanzânia e Gana, mas também precisamos nos aproximar mais dos nossos irmãos no Brasil”, afirmou.
Panteras Negras
O partido de ambições revolucionárias foi criado por Huey Newton e Bobby Seale em 1966 na Califórnia, Estados Unidos. Originalmente o grande objetivo dos seus partidários era proteger os guetos negros das ações repressoras e violentas por parte da polícia norte-americana, mas o grupo foi se tornando cada vez mais político. Os Panteras Negras foram aos poucos se consolidando ao reivindicar do governo isenção de impostos para os negros e compensação pelos séculos de exploração pela escravatura. No auge do grupo, cerca de 2 mil ativistas elevaram a auto-estima negra com a expansão do Movimento Black Power. Em meados dos anos 80 o grupo se desfez, mas a herança deixada por líderes como Fred Hamptom permanece espalhada no mundo inteiro até hoje.
Foto: Tom Correia
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Sankofa's traz a África para a Bahia
Único bar de Salvador com temática africana, local oferece programação musical variada na noite do Pelourinho.
Um bar temático onde as pessoas se encontram não apenas para beber e dançar ao som de uma música de qualidade, mas também onde é possível ter contato com a essência da cultura africana. Assim pode ser definido o Sankofa's Bar, inaugurado há seis meses no Centro Histórico de Salvador mas que a partir de novembro começa a oferecer ao público atrações mais diversificadas, incluindo salsa, forró, semba e samba de raiz. Shows com performances de DJ's e de bandas como Válvula D'Scap e Tropicola fazem parte da programação.
O bar surgiu quando o DJ Justine Lloyd, nascido em Gana, percebeu que não existia na Bahia um ambiente onde uma África original pudesse ser encontrada. Junto com mais dois amigos, um nigeriano que mora nos Estados Unidos e outro jamaicano que mora na Inglaterra, ele iniciou o projeto, que pretende ser mais do que um local de entretenimento. A burocracia para conseguir um imóvel no Pelourinho não desestimulou Lloyd. “Levei quatro anos para encontrar esse espaço aqui e só conseguimos abrir o bar depois da ajuda de meus amigos”, declarou.
O Sankofa's tem capacidade para 200 pessoas e funciona de terça a domingo a partir das 22 horas, na Rua Frei Vicente, Pelourinho. Decorado com bandeiras de países africanos e elementos da cultura negra, ali também é possível assistir, gratuitamente, filmes, documentários e novelas produzidas na África. A média de público é de 140 pessoas que pagam de 10 a 12 reais pelo ingresso. A frequência aumenta nos dias de terça, com show de salsa, e sexta, com apresentação de semba [música tradicional angolana, também conhecida como umbigada]. A jornalista Sueide Kintê, 22, é uma das freqüentadoras do bar. Ela afirma que os shows são como uma festa de largo com qualidade no atendimento e segurança. “Aqui encontro as cores e energia da África sem exotismo e sem folclore”, afirma.
Intercâmbio Bahia-África
Além do bar, no qual foram investidos cerca de R$ 200 mil, Justine Lloyd pretende lançar a médio prazo projetos na área social. A idéia é ensinar cultura e idioma africanos a crianças de bairros carentes de Salvador, estabelecendo um intercâmbio entre países africanosa e a Bahia. O músico acredita que seja necessário resgatar a imagem do continente negro junto aos baianos. “Queremos passar conhecimento para os meninos e meninas daqui através das nossas raízes e mostrar para eles que a África não é só guerra, fome e pobreza”, afirmou Lloyd.
Foto: Divulgação
Um bar temático onde as pessoas se encontram não apenas para beber e dançar ao som de uma música de qualidade, mas também onde é possível ter contato com a essência da cultura africana. Assim pode ser definido o Sankofa's Bar, inaugurado há seis meses no Centro Histórico de Salvador mas que a partir de novembro começa a oferecer ao público atrações mais diversificadas, incluindo salsa, forró, semba e samba de raiz. Shows com performances de DJ's e de bandas como Válvula D'Scap e Tropicola fazem parte da programação.
O bar surgiu quando o DJ Justine Lloyd, nascido em Gana, percebeu que não existia na Bahia um ambiente onde uma África original pudesse ser encontrada. Junto com mais dois amigos, um nigeriano que mora nos Estados Unidos e outro jamaicano que mora na Inglaterra, ele iniciou o projeto, que pretende ser mais do que um local de entretenimento. A burocracia para conseguir um imóvel no Pelourinho não desestimulou Lloyd. “Levei quatro anos para encontrar esse espaço aqui e só conseguimos abrir o bar depois da ajuda de meus amigos”, declarou.
O Sankofa's tem capacidade para 200 pessoas e funciona de terça a domingo a partir das 22 horas, na Rua Frei Vicente, Pelourinho. Decorado com bandeiras de países africanos e elementos da cultura negra, ali também é possível assistir, gratuitamente, filmes, documentários e novelas produzidas na África. A média de público é de 140 pessoas que pagam de 10 a 12 reais pelo ingresso. A frequência aumenta nos dias de terça, com show de salsa, e sexta, com apresentação de semba [música tradicional angolana, também conhecida como umbigada]. A jornalista Sueide Kintê, 22, é uma das freqüentadoras do bar. Ela afirma que os shows são como uma festa de largo com qualidade no atendimento e segurança. “Aqui encontro as cores e energia da África sem exotismo e sem folclore”, afirma.
Intercâmbio Bahia-África
Além do bar, no qual foram investidos cerca de R$ 200 mil, Justine Lloyd pretende lançar a médio prazo projetos na área social. A idéia é ensinar cultura e idioma africanos a crianças de bairros carentes de Salvador, estabelecendo um intercâmbio entre países africanosa e a Bahia. O músico acredita que seja necessário resgatar a imagem do continente negro junto aos baianos. “Queremos passar conhecimento para os meninos e meninas daqui através das nossas raízes e mostrar para eles que a África não é só guerra, fome e pobreza”, afirmou Lloyd.
Foto: Divulgação
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Literatura: José Carlos Limeira
Em entrevista exclusiva, o escritor fala da sua infância, trajetória literária e da sua poesia de resistência
Com mais de 35 anos de carreira, José Carlos Limeira, 56, é um dos autores nascidos em Salvador de maior destaque dentro da comunidade negra e dos ambientes acadêmicos do Brasil e do Exterior. Estreou com o livro de poesias “Zumbi...dos” em 1971 e em seguida vieram “Lembranças” (1972), O Arco-íris Negro (1978), Atabaques (1983) e “Black Intentions” (2003) inédito no Brasil. Está finalizando “Malakê”, que deverá ser lançado em 2008. Colaborador dos Cadernos Negros desde 1980, o escritor faz parte dos Conselhos Editoriais do Jornal Multicampi da Revista do Cepaia, além de ser membro do Conselho da Your World, Organização Internacional de Educação e Assessor Técnico da Universidade Estadual da Bahia. Nascido no bairro de Nazaré, com origens no Recôncavo Baiano, Limeira concebe uma poesia na qual “percebemos uma sintonia com a poesia contestatória e palmarina de Solano Trindade”, segundo a Mestra em Teoria da Literatura, Zoraide Portela Silva. Nesta entrevista ao Salvador Negroamor, o autor baiano fala da sua vida, do seu trabalho e de questões ligadas à militância negra.
SNA – Você utiliza muito da sua biografia nos seus poemas. Quais as suas lembranças de sua infância?
JCL – Boa parte delas já foram publicadas. Tenho um poema chamado “Ecos”, em que faço uma viagem no tempo, pela antiga Salvador. Já “No Corredor da Lapinha” busquei registrar as figuras e as particularidades desse lugar que me marcou profundamente. Não posso falar em infância miserável (porque tem aquela coisa do chororô de ser pobre quando criança), já que tive uma vida muito tranqüila. Meu pai depois que passou a ser Prático [condutor de embarcações em portos], progrediu muito e já naquela época, em 1952, viajávamos de avião para o Rio de Janeiro, visitar os parentes. Não segui a profissão do meu pai porque acreditei que ser Engenheiro Mecânico fosse melhor e também havia uma preocupação muito grande de minha mãe em relação ao perigo da vida no mar. Além disso, havia toda aquele ranço discriminatório em relação aos trabalhadores do porto. Então, não nasci em berço de ouro mas não tive dificuldades.
SNA – Como se deu seu primeiro contato com a Literatura?
JCL – Eu queria ser Oficial da Marinha e já no Colégio Naval comecei escrevendo cartas, a pedido dos meus colegas, principalmente os veteranos, que queriam impressionar as namoradas. E a coisa foi virando meio que “Central do Brasil”, pois eles gostaram e logo todas as namoradas dos praças passaram a receber as tais cartas. Houve um caso de um colega que estava vivendo um romance tórrido com uma moça e quando eles brigaram certa feita, ele revelou: “olha, nenhuma daquelas cartas fui que escrevi, foi um calouro lá que eu mandei ler suas cartas e responder”. E ela respondeu: “Que pena, mas eu estava mesmo apaixonada era pelo texto” (risos). Então comecei a fazer parte da Associação Fênix Naval, na qual se reuniam os interessados por Literatura, fazíamos recitais para as normalistas, isso no Rio de Janeiro. Foi lá que conheci um dos grande escritores, pouquíssimo conhecido, o Luciano de Oliveira. Foi ele quem me disse que eu era poeta.
SNA – Você atua como escritor engajado desde os anos setenta. Que momentos da sua carreira foram os mais marcantes?
JCL - Houve um evento organizado por professores e pesquisadores da Universidade de Tulsa, em Oklahoma [Estados Unidos], em 2003, que particularmente foi muito importante para mim. Eu estava vaidosamente pesquisando sobre mim na internet e descobri que um certo Bruce Dean Wyllys havia escrito sobre o meu trabalho. Daí entramos em contato, estabelecemos uma amizade e ele me convido como escritor de Língua Portuguesa juntos com outros cinco autores. Dois de Língua Inglesa, dois de Espanhol e um de Francês. E foi muito engraçado ver que os intelectuais de países mais desenvolvidos costumam ler seus textos e publicações com uma certa isenção. E enquanto eu fazia a leitura com toda carga de emoção que um poeta negro brasileiro tem, diante de umas duas mil pessoas, o Wyllys ia fazendo a tradução para o inglês. Mas ficou uma coisa muito boa, porque ele fazia todo o gestual, encarnando o espírito da minha poesia e o mais interessante foi ver o contraste daquele homem branco de olhos azuis emocionado com as palavras que falavam sobre a negritude. E aí a platéia aplaudiu de pé, todo mundo festejou e minhas pernas começaram a tremer (risos). Nesse dia eu esgotei uma edição de um livro chamado “Black Intentions”, lançado nos Estados Unidos justamente para esse encontro e hoje ele está sendo usado nas aulas de português da Universidades de Maryland e da Universidade de Vanderbilt.
SNA – Mas você também pode ser considerado um autor de contramão quando se trata de figuras históricas...
JCL - Tenho um poema que desmistica antigos medalhões da História do Brasil como Domingos Jorge Velho, o bandeirante, que no meu entender, depois de estudado e revisado, deveria ser visto como assassino e não como herói. Um cara que voltou de uma de suas expedições exibindo três mil orelhas de negros e se vangloriando do seu “feito”.
SNA - Seu trabalho é mais reconhecido no exterior do que no Brasil?
Com mais de 35 anos de carreira, José Carlos Limeira, 56, é um dos autores nascidos em Salvador de maior destaque dentro da comunidade negra e dos ambientes acadêmicos do Brasil e do Exterior. Estreou com o livro de poesias “Zumbi...dos” em 1971 e em seguida vieram “Lembranças” (1972), O Arco-íris Negro (1978), Atabaques (1983) e “Black Intentions” (2003) inédito no Brasil. Está finalizando “Malakê”, que deverá ser lançado em 2008. Colaborador dos Cadernos Negros desde 1980, o escritor faz parte dos Conselhos Editoriais do Jornal Multicampi da Revista do Cepaia, além de ser membro do Conselho da Your World, Organização Internacional de Educação e Assessor Técnico da Universidade Estadual da Bahia. Nascido no bairro de Nazaré, com origens no Recôncavo Baiano, Limeira concebe uma poesia na qual “percebemos uma sintonia com a poesia contestatória e palmarina de Solano Trindade”, segundo a Mestra em Teoria da Literatura, Zoraide Portela Silva. Nesta entrevista ao Salvador Negroamor, o autor baiano fala da sua vida, do seu trabalho e de questões ligadas à militância negra.
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SNA – Você utiliza muito da sua biografia nos seus poemas. Quais as suas lembranças de sua infância?
JCL – Boa parte delas já foram publicadas. Tenho um poema chamado “Ecos”, em que faço uma viagem no tempo, pela antiga Salvador. Já “No Corredor da Lapinha” busquei registrar as figuras e as particularidades desse lugar que me marcou profundamente. Não posso falar em infância miserável (porque tem aquela coisa do chororô de ser pobre quando criança), já que tive uma vida muito tranqüila. Meu pai depois que passou a ser Prático [condutor de embarcações em portos], progrediu muito e já naquela época, em 1952, viajávamos de avião para o Rio de Janeiro, visitar os parentes. Não segui a profissão do meu pai porque acreditei que ser Engenheiro Mecânico fosse melhor e também havia uma preocupação muito grande de minha mãe em relação ao perigo da vida no mar. Além disso, havia toda aquele ranço discriminatório em relação aos trabalhadores do porto. Então, não nasci em berço de ouro mas não tive dificuldades.
SNA – Como se deu seu primeiro contato com a Literatura?
JCL – Eu queria ser Oficial da Marinha e já no Colégio Naval comecei escrevendo cartas, a pedido dos meus colegas, principalmente os veteranos, que queriam impressionar as namoradas. E a coisa foi virando meio que “Central do Brasil”, pois eles gostaram e logo todas as namoradas dos praças passaram a receber as tais cartas. Houve um caso de um colega que estava vivendo um romance tórrido com uma moça e quando eles brigaram certa feita, ele revelou: “olha, nenhuma daquelas cartas fui que escrevi, foi um calouro lá que eu mandei ler suas cartas e responder”. E ela respondeu: “Que pena, mas eu estava mesmo apaixonada era pelo texto” (risos). Então comecei a fazer parte da Associação Fênix Naval, na qual se reuniam os interessados por Literatura, fazíamos recitais para as normalistas, isso no Rio de Janeiro. Foi lá que conheci um dos grande escritores, pouquíssimo conhecido, o Luciano de Oliveira. Foi ele quem me disse que eu era poeta.
SNA – Você atua como escritor engajado desde os anos setenta. Que momentos da sua carreira foram os mais marcantes?
JCL - Houve um evento organizado por professores e pesquisadores da Universidade de Tulsa, em Oklahoma [Estados Unidos], em 2003, que particularmente foi muito importante para mim. Eu estava vaidosamente pesquisando sobre mim na internet e descobri que um certo Bruce Dean Wyllys havia escrito sobre o meu trabalho. Daí entramos em contato, estabelecemos uma amizade e ele me convido como escritor de Língua Portuguesa juntos com outros cinco autores. Dois de Língua Inglesa, dois de Espanhol e um de Francês. E foi muito engraçado ver que os intelectuais de países mais desenvolvidos costumam ler seus textos e publicações com uma certa isenção. E enquanto eu fazia a leitura com toda carga de emoção que um poeta negro brasileiro tem, diante de umas duas mil pessoas, o Wyllys ia fazendo a tradução para o inglês. Mas ficou uma coisa muito boa, porque ele fazia todo o gestual, encarnando o espírito da minha poesia e o mais interessante foi ver o contraste daquele homem branco de olhos azuis emocionado com as palavras que falavam sobre a negritude. E aí a platéia aplaudiu de pé, todo mundo festejou e minhas pernas começaram a tremer (risos). Nesse dia eu esgotei uma edição de um livro chamado “Black Intentions”, lançado nos Estados Unidos justamente para esse encontro e hoje ele está sendo usado nas aulas de português da Universidades de Maryland e da Universidade de Vanderbilt.
SNA – Mas você também pode ser considerado um autor de contramão quando se trata de figuras históricas...
JCL - Tenho um poema que desmistica antigos medalhões da História do Brasil como Domingos Jorge Velho, o bandeirante, que no meu entender, depois de estudado e revisado, deveria ser visto como assassino e não como herói. Um cara que voltou de uma de suas expedições exibindo três mil orelhas de negros e se vangloriando do seu “feito”.
SNA - Seu trabalho é mais reconhecido no exterior do que no Brasil?
JCL - Houve um momento em que na Alemanha conheciam mais o Limeira do que no Brasil. Em 1988, comemorando o centenário da Abolição, o governo brasileiro fez uma intensa propaganda lá fora quanto à questão da democracia racial vivida aqui. E uma ex-professora da Ufba, que na época morava na Alemanha, Ana Parente Cunha, publicou através de uma editora chamada Diá, um livro chamado “Schwarze Poesie” [poesia negra] no qual vários autores expressaram suas vivências e expectativas dentro de um país que não se dizia racista, o que ia na contramão da propaganda governamental. Vários trechos do livro foram encenados no teatro e como a Alemanha tem muitas redes estatais de televisão, depois eu recebi uma resenha de Ana me informando que esse material atingiu um público de mais de 20 milhões de pessoas. Nunca tive a menor expectativa de ter um público como esse no Brasil... por isso eu costumo dizer que sempre passo por momentos mágicos na minha vida e qual não foi minha surpresa quando um dia eu estava na Ufba, a convite da professora Doralice Alcoforado, quando me entregaram uma importância referente ao meu texto, que havia se transformado num disque-poema na Alemanha, onde as pessoas pagavam para ouvi-lo. Eu fiquei duplamente feliz: pelo respeito que eles têm pela cultura, pelos escritores e outra por ter sido escolhido para ser estudado por eles. Isso no Brasil seria impossível. Eu acho que a gente ainda não tem educação para a música, para a poesia, para uma série de expressões.
SNA - Existe uma Literatura Negra atuante no Brasil?
JCL - Existe sim e as pessoas costumam questionar se Literatura tem cor ou não. No meu entender, o que é produzido pelos afro-descendentes tem uma uma importância fundamental como uma literatura de resgate de nossas reais tradições, como um espaço de respeito e dignidade para o negro dentro da sociedade brasileira. Ela é necessária porque a Literatura sempre foi um reduto branco. Tudo que era produzido pelo negro era de segunda qualidade ou considerado folclore e não faziam parte dos “padrões literários”. Pois bem. Até os nossos grandes autores são caiados ou esmaecidos quando produzem algo maior. Vide os exemplos de Machado de Assis, o próprio Cruz e Sousa e o recém-descoberto Lima Barreto, um dos mais discriminados pelos intelectuais brasileiros. Contemporâneo de Machado, Lima era cáustico na crítica às relações sociais e inclusive falava na própria discriminação sofrida, quando foi impedido de colar grau na faculdade politécnica e quando passou por uma série de percalços pelo fato de ser negro. Apesar dele ter uma obra tão pujante quanto à do nosso querido Machado, nunca foi adotado como cânone pela Academia e só foi redescoberto e valorizado muito recentemente. Existem outros, como Paula Brito e Solano Trindade que não apareciam nos compêndios literários. O Brasil ainda tem muita resistência para aceitar o negro além do sambista, do jogador de futebol ou que ele é muito bom de rebolado. Eu acho que tínhamos de pôr mais luz na obra de autores contemporâneos, que terminam até desistindo do fazer literário porque não têm um reconhecimento. E muitos autores capazes estão se perdendo pelo caminho. O problema é que a nossa Literatura toca em questões dolorosas e as pessoas preferem que se omita a realidade de um país que não é democrático nem é racialmente justo. É uma Literatura de denúncia, que se torna um instrumento de luta quando pega um garoto do hip-hop ou grafifeiro e dá informações para ele.
SNA - E qual o panorama da Literatura Negra na Bahia atualmente?
JCL - Quem deu maior visibilidade ao nosso trabalho nos últimos trinta anos foram os Cadernos Negros, que reúnem escritores de todo o país, que bancam suas próprias publicações. Cada vez que sou publicado neles, por exemplo, eu invisto cerca de 300, 400 reais e isso nos dá uma total liberdade de expressão, sem ficarmos sob a tutela de uma editora. Os textos publicados nos Cadernos são analisados por um Conselho Editorial que prima pela qualidade dos trabalhos. Os materiais panfletários não são aceitos, pois para isso existem os autores panfletários, que divergem da nossa proposta. A nossa literatura expõe certos pensamentos e certas vivências que a sociedade distante da nossa cultura já não pode mais deixar de experimentar, de perceber um outro país dentro do Brasil, que mesmo sem acesso a condições mínimas de educação, dignidade e sobrevivência continua construindo e levando para o mundo uma alegria, uma felicidade desconhecida do próprio Brasil. Aqui temos atualmente autores do porte de Jonathas Conceição da Silva, Osvaldo de Camargo, Landê Onawale, Sílvio Roberto. Temos ainda Hamilton Borges, dono de uma literatura de “pegada” e Nelson Gonçalves Maca, professor da Universidade Católica de Salvador e que mostra a literatura produzida pelos afrodescendentes dentro da Academia. As mulheres negras também estão produzindo, como Nivalda Costa e Aline França, autora conhecida na Bélgica com a obra “A Mulher de Aleduma”.
SNA - Você acredita que o ambiente acadêmico seja mais propício à produção literária?
JCL – Tenho tido uma boa relação com a Academia, mas não acredito nisso. Ainda existe a questão dos cânones, a questão dos moldes mais formais. A aceitação e o reconhecimento da produção negra é muito maior em guetos literários, por onde circulam os autores e os leitores. Eu já tive a honra de chegar em alguns lugares e perguntar se conheciam algum poema meu e a platéia reagir positivamente.
SNA – Quem são os autores de maior influência na sua obra?
JCL - Além de Cruz e Sousa e Luís Gama, um poeta e contista contemporâneo chamado Cuti, dono de uma extrema qualidade no verso e ao mesmo tempo em que tem uma técnica apurada. Gosto muito do texto de José Carlos Capinam e do meu grande amigo Ildásio Tavares. Também não dá para fugir dos clássicos, como Baudelaire... para construir as flores do bem tive que passar pelas flores do mal...(risos).
SNA – Onde é possível encontrar seus livros?
JCL – Não sei se felizmente ou infelizmente, mas estão todos esgotados (risos). O último foi lançado nos Estados Unidos, mas em alguns sebos talvez seja possível achar algum deles. Soube que num site de um sebo chamado Traça Virtual existem exemplares de “Atabaques”.
SNA – E a questão da sua religiosidade, qual a sua relação com o Candomblé?
JCL - Eu sou Ogã Tanundê do Terreiro Rumpaime Aiono Ontoloji, que fica no Alto da Levada, em Cachoeira. Em Jeje “Tanundê” significa uma espécie de relações públicas do terreiro. A Nação Jeje talvez esteja ameaçada de extinção porque todo ciclo de festas, todo ciclo de iniciação é muito longo, muito pouco divulgado e a maioria das pessoas só são iniciadas quando se aposentam. As obrigações e a iniciação exigem seis meses dentro e seis meses fora do Terreiro, por isso estamos pensando numa reformulação nesses procedimentos. Precisamos dar uma atividade maior e preservar uma das nações mais ricas e também complicadas para se ter acesso.
Foto: Alex Rubinélio
SNA - Existe uma Literatura Negra atuante no Brasil?
JCL - Existe sim e as pessoas costumam questionar se Literatura tem cor ou não. No meu entender, o que é produzido pelos afro-descendentes tem uma uma importância fundamental como uma literatura de resgate de nossas reais tradições, como um espaço de respeito e dignidade para o negro dentro da sociedade brasileira. Ela é necessária porque a Literatura sempre foi um reduto branco. Tudo que era produzido pelo negro era de segunda qualidade ou considerado folclore e não faziam parte dos “padrões literários”. Pois bem. Até os nossos grandes autores são caiados ou esmaecidos quando produzem algo maior. Vide os exemplos de Machado de Assis, o próprio Cruz e Sousa e o recém-descoberto Lima Barreto, um dos mais discriminados pelos intelectuais brasileiros. Contemporâneo de Machado, Lima era cáustico na crítica às relações sociais e inclusive falava na própria discriminação sofrida, quando foi impedido de colar grau na faculdade politécnica e quando passou por uma série de percalços pelo fato de ser negro. Apesar dele ter uma obra tão pujante quanto à do nosso querido Machado, nunca foi adotado como cânone pela Academia e só foi redescoberto e valorizado muito recentemente. Existem outros, como Paula Brito e Solano Trindade que não apareciam nos compêndios literários. O Brasil ainda tem muita resistência para aceitar o negro além do sambista, do jogador de futebol ou que ele é muito bom de rebolado. Eu acho que tínhamos de pôr mais luz na obra de autores contemporâneos, que terminam até desistindo do fazer literário porque não têm um reconhecimento. E muitos autores capazes estão se perdendo pelo caminho. O problema é que a nossa Literatura toca em questões dolorosas e as pessoas preferem que se omita a realidade de um país que não é democrático nem é racialmente justo. É uma Literatura de denúncia, que se torna um instrumento de luta quando pega um garoto do hip-hop ou grafifeiro e dá informações para ele.
SNA - E qual o panorama da Literatura Negra na Bahia atualmente?
JCL - Quem deu maior visibilidade ao nosso trabalho nos últimos trinta anos foram os Cadernos Negros, que reúnem escritores de todo o país, que bancam suas próprias publicações. Cada vez que sou publicado neles, por exemplo, eu invisto cerca de 300, 400 reais e isso nos dá uma total liberdade de expressão, sem ficarmos sob a tutela de uma editora. Os textos publicados nos Cadernos são analisados por um Conselho Editorial que prima pela qualidade dos trabalhos. Os materiais panfletários não são aceitos, pois para isso existem os autores panfletários, que divergem da nossa proposta. A nossa literatura expõe certos pensamentos e certas vivências que a sociedade distante da nossa cultura já não pode mais deixar de experimentar, de perceber um outro país dentro do Brasil, que mesmo sem acesso a condições mínimas de educação, dignidade e sobrevivência continua construindo e levando para o mundo uma alegria, uma felicidade desconhecida do próprio Brasil. Aqui temos atualmente autores do porte de Jonathas Conceição da Silva, Osvaldo de Camargo, Landê Onawale, Sílvio Roberto. Temos ainda Hamilton Borges, dono de uma literatura de “pegada” e Nelson Gonçalves Maca, professor da Universidade Católica de Salvador e que mostra a literatura produzida pelos afrodescendentes dentro da Academia. As mulheres negras também estão produzindo, como Nivalda Costa e Aline França, autora conhecida na Bélgica com a obra “A Mulher de Aleduma”.
SNA - Você acredita que o ambiente acadêmico seja mais propício à produção literária?
JCL – Tenho tido uma boa relação com a Academia, mas não acredito nisso. Ainda existe a questão dos cânones, a questão dos moldes mais formais. A aceitação e o reconhecimento da produção negra é muito maior em guetos literários, por onde circulam os autores e os leitores. Eu já tive a honra de chegar em alguns lugares e perguntar se conheciam algum poema meu e a platéia reagir positivamente.
SNA – Quem são os autores de maior influência na sua obra?
JCL - Além de Cruz e Sousa e Luís Gama, um poeta e contista contemporâneo chamado Cuti, dono de uma extrema qualidade no verso e ao mesmo tempo em que tem uma técnica apurada. Gosto muito do texto de José Carlos Capinam e do meu grande amigo Ildásio Tavares. Também não dá para fugir dos clássicos, como Baudelaire... para construir as flores do bem tive que passar pelas flores do mal...(risos).
SNA – Onde é possível encontrar seus livros?
JCL – Não sei se felizmente ou infelizmente, mas estão todos esgotados (risos). O último foi lançado nos Estados Unidos, mas em alguns sebos talvez seja possível achar algum deles. Soube que num site de um sebo chamado Traça Virtual existem exemplares de “Atabaques”.
SNA – E a questão da sua religiosidade, qual a sua relação com o Candomblé?
JCL - Eu sou Ogã Tanundê do Terreiro Rumpaime Aiono Ontoloji, que fica no Alto da Levada, em Cachoeira. Em Jeje “Tanundê” significa uma espécie de relações públicas do terreiro. A Nação Jeje talvez esteja ameaçada de extinção porque todo ciclo de festas, todo ciclo de iniciação é muito longo, muito pouco divulgado e a maioria das pessoas só são iniciadas quando se aposentam. As obrigações e a iniciação exigem seis meses dentro e seis meses fora do Terreiro, por isso estamos pensando numa reformulação nesses procedimentos. Precisamos dar uma atividade maior e preservar uma das nações mais ricas e também complicadas para se ter acesso.
Foto: Alex Rubinélio
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Brasil, África do Sul e Índia realizam mostra de manifestações culturais em Salvador
Artistas dos três países realizam encontro inédito para apresentações e oficinas de música e dança
Um encontro inédito está promovendo em Salvador a integração de artistas, grupos musicais e dançarinos de três dos mais importantes países em desenvolvimento no mundo: Índia, Brasil e África do Sul. O 1º Festival de Música e Dança IBAS acontece de 24 a 27 de outubro e programou além de shows com artistas locais, oficinas de percussão e dança abertas ao público. O evento é resultado de iniciativas por parte do Ministério das Relações Exteriores, que tem buscado uma aproximação cultural com países emergentes com culturas semelhantes às do Brasil.
Na tarde desta quinta-feira (25), o Passeio Público de Salvador serviu como palco para a apresentação do grupo Phambili Marimba, composto por nove percussionistas da África do Sul que além de ensinar às pessoas presentes danças originadas da Cidade do Cabo, ainda se apresentaram tocando ritmos africanos com elementos de jazz e música moderna. O resultado agradou ao público, que ao som das marimbas (instrumentos de percussão feitos de madeira), interagiu totalmente com os músicos. “A dança e o ritmo deles são parecidos com os daqui da Bahia, só que mais acelerado”, disse a estudante Rebeca Xavier.
Logo depois foi a vez do Sadhya, um dos mais tradicionais grupos de dança da Índia. Ao som das marimbas africanas, os dançarinos apresentaram a coreografia “Jogo de Dados”, uma performance que tem como maior referência formas artísticas indianas como o Kathakali (teatro), Chhau (arte marcial) e a dança contemporânea. Além das apresentações, os integrantes do grupo ministraram uma oficina de dança. “Vejo muita semelhança entre a capoeira e a nossa dança, percebi isso desde a primeira vez em que estive na Bahia, há nove anos”, declarou Santosh Nair, coreógrafo e fundador do Sadhya.
Linguagem Universal
O músico sul-africano Bongani Sotshononda, líder do Phambili Marimba, foi um dos artistas que mais se identificaram com o público. Conduzindo os passos dos alunos da oficina, a interação foi completa. “Sentimos que realmente a energia da Bahia é igual à nossa. Só tivemos dificuldade com o idioma, mas a música supera essas barreiras em qualquer parte do mundo”, disse. No próximo domingo (27) o público de Salvador ainda terá chance de ver as próximas apresentações dos grupos, com a realização de um grande show de encerramento no Largo do Pelourinho, a partir das 21 horas, com a participação de Margareth Menezes e do Olodum. O percussionista baiano Sérgio Otanazetra elogiou a iniciativa: “A música, a dança e o ritmo unificam as culturas e um evento como esse precisa atingir um público cada vez maior”, declarou.
Foto: Tom Correia
Um encontro inédito está promovendo em Salvador a integração de artistas, grupos musicais e dançarinos de três dos mais importantes países em desenvolvimento no mundo: Índia, Brasil e África do Sul. O 1º Festival de Música e Dança IBAS acontece de 24 a 27 de outubro e programou além de shows com artistas locais, oficinas de percussão e dança abertas ao público. O evento é resultado de iniciativas por parte do Ministério das Relações Exteriores, que tem buscado uma aproximação cultural com países emergentes com culturas semelhantes às do Brasil.
Na tarde desta quinta-feira (25), o Passeio Público de Salvador serviu como palco para a apresentação do grupo Phambili Marimba, composto por nove percussionistas da África do Sul que além de ensinar às pessoas presentes danças originadas da Cidade do Cabo, ainda se apresentaram tocando ritmos africanos com elementos de jazz e música moderna. O resultado agradou ao público, que ao som das marimbas (instrumentos de percussão feitos de madeira), interagiu totalmente com os músicos. “A dança e o ritmo deles são parecidos com os daqui da Bahia, só que mais acelerado”, disse a estudante Rebeca Xavier.
Logo depois foi a vez do Sadhya, um dos mais tradicionais grupos de dança da Índia. Ao som das marimbas africanas, os dançarinos apresentaram a coreografia “Jogo de Dados”, uma performance que tem como maior referência formas artísticas indianas como o Kathakali (teatro), Chhau (arte marcial) e a dança contemporânea. Além das apresentações, os integrantes do grupo ministraram uma oficina de dança. “Vejo muita semelhança entre a capoeira e a nossa dança, percebi isso desde a primeira vez em que estive na Bahia, há nove anos”, declarou Santosh Nair, coreógrafo e fundador do Sadhya.
Linguagem Universal
O músico sul-africano Bongani Sotshononda, líder do Phambili Marimba, foi um dos artistas que mais se identificaram com o público. Conduzindo os passos dos alunos da oficina, a interação foi completa. “Sentimos que realmente a energia da Bahia é igual à nossa. Só tivemos dificuldade com o idioma, mas a música supera essas barreiras em qualquer parte do mundo”, disse. No próximo domingo (27) o público de Salvador ainda terá chance de ver as próximas apresentações dos grupos, com a realização de um grande show de encerramento no Largo do Pelourinho, a partir das 21 horas, com a participação de Margareth Menezes e do Olodum. O percussionista baiano Sérgio Otanazetra elogiou a iniciativa: “A música, a dança e o ritmo unificam as culturas e um evento como esse precisa atingir um público cada vez maior”, declarou.
Foto: Tom Correia
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Escola desperta valores afrodescendentes nos alunos
Centro de Educação Infantil Municipal Cid Passos, no subúrbio ferroviário de Salvador, desenvolve arte-educação e conscientiza crianças sobre diversidade
Uma escola pública municipal onde é possível aprender a tocar violino, ter aulas de dança e que funciona como um espaço aberto para atividades da comunidade. Essa é a proposta do Centro de Educação Infantil Municipal Cid Passos, localizado no bairro de Coutos, subúrbio de Salvador, onde professores comprometidos com o projeto pedagógico da unidade educam 440 crianças, entre 3 e 12 anos, dos níveis infantil e fundamental. Além da ênfase ao lúdico, com ensinamentos que envolvem brincadeiras e jogos educacionais, a escola tem na sua metodologia a preocupação com os valores referentes aos aspectos da cultura de origens africanas.
Mesmo antes da aplicação da Lei 10.639/03 (que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura afro-brasileira nas escolas públicas e particulares) as questões étnicas já eram tratadas nas salas de aula através da música, das artes plásticas e nas aulas de teatro. É o que afirma Patrícia Barral, diretora geral da escola. “No ano passado montamos a peça 'Luana e a semente de Zumbi', que traz uma série de reflexões sobre a nossa etnia”, completa.
A busca da identidade e valorização da cultura afro-brasileira é tarefa importante para a escola. Um dos métodos para essa busca é o uso de espelhos em todas as salas de aula, utilizados para a auto-identificação dos alunos, formados na sua imensa maioria por negros e afrodescendentes. “Percebemos que não existe o preconceito entre as crianças, apenas uma dificuldade em identificar suas heranças”, declarou a educadora Cristiane Matos.
Os alunos de educação infantil ficam na instituição em regime de tempo integral, sendo um motivo de tranqüilidade para os pais que trabalham fora. Zenilda Oliveira tem dois filhos na Cid Passos. Matheus, de 12 anos e Talita, de 8, e para ela a escola é peça fundamental para desenvolvimento de seus filhos. “Eles desenvolveram mais a leitura e participam dos projetos da escola. Matheus era muito nervoso, mas depois que foi encaminhado pela escola para acompanhamento de um psicólogo, ele melhorou bastante”, disse.
Comunidade atuante e parcerias
Inaugurado em 2003 e ocupando dois prédios cedidos à Prefeitura de Salvador, em regime de comodato pelo Serviço Social da Indústria na Bahia (Sesi), o Centro de Educação conta com uma verba anual de R$2.700 e tem uma relação estreita com a comunidade. Há um “Conselho Escolar”, eleito por meio de votação direta, composto por representantes de pais, professores e funcionários, que se reúne uma vez ao mês para sugerir medidas e tomar decisões. “Tenho certeza de que a nossa escola é bem sucedida porque a comunidade tem uma participação efetiva na escola”, afirma Barral.
Há quatro anos, uma parceria com a Escola Nova Nossa Infância, na Pituba, criou um intercâmbio com o objetivo de quebrar as barreiras das diferenças étnicas, sociais e culturais entre os alunos. A integração e a convivência com essas diferenças levaram os alunos da escola privada a tomarem a iniciativa de dividir entre eles o valor das taxas para que fossem tiradas as carteiras de identidade dos alunos da Cid Passos.
Ano passado, a escola participou prêmio “Minha Escola é Tudo de Bom”, um projeto de conservação escolar da Secretaria Municipal de Educação. Apesar de não ter sido classificada, a escola foi inscrita para concorrer ao “Prêmio Sesi Qualidade da Educação”, que contempla as unidades de ensino fundamental que se destacam no Brasil. Mesmo não sendo contemplados, para a diretora Patrícia Barral, a iniciativa já é vencedora.
Fotos: Tom Correia
Uma escola pública municipal onde é possível aprender a tocar violino, ter aulas de dança e que funciona como um espaço aberto para atividades da comunidade. Essa é a proposta do Centro de Educação Infantil Municipal Cid Passos, localizado no bairro de Coutos, subúrbio de Salvador, onde professores comprometidos com o projeto pedagógico da unidade educam 440 crianças, entre 3 e 12 anos, dos níveis infantil e fundamental. Além da ênfase ao lúdico, com ensinamentos que envolvem brincadeiras e jogos educacionais, a escola tem na sua metodologia a preocupação com os valores referentes aos aspectos da cultura de origens africanas.
Mesmo antes da aplicação da Lei 10.639/03 (que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura afro-brasileira nas escolas públicas e particulares) as questões étnicas já eram tratadas nas salas de aula através da música, das artes plásticas e nas aulas de teatro. É o que afirma Patrícia Barral, diretora geral da escola. “No ano passado montamos a peça 'Luana e a semente de Zumbi', que traz uma série de reflexões sobre a nossa etnia”, completa.
A busca da identidade e valorização da cultura afro-brasileira é tarefa importante para a escola. Um dos métodos para essa busca é o uso de espelhos em todas as salas de aula, utilizados para a auto-identificação dos alunos, formados na sua imensa maioria por negros e afrodescendentes. “Percebemos que não existe o preconceito entre as crianças, apenas uma dificuldade em identificar suas heranças”, declarou a educadora Cristiane Matos.
Os alunos de educação infantil ficam na instituição em regime de tempo integral, sendo um motivo de tranqüilidade para os pais que trabalham fora. Zenilda Oliveira tem dois filhos na Cid Passos. Matheus, de 12 anos e Talita, de 8, e para ela a escola é peça fundamental para desenvolvimento de seus filhos. “Eles desenvolveram mais a leitura e participam dos projetos da escola. Matheus era muito nervoso, mas depois que foi encaminhado pela escola para acompanhamento de um psicólogo, ele melhorou bastante”, disse.
Comunidade atuante e parcerias
Inaugurado em 2003 e ocupando dois prédios cedidos à Prefeitura de Salvador, em regime de comodato pelo Serviço Social da Indústria na Bahia (Sesi), o Centro de Educação conta com uma verba anual de R$2.700 e tem uma relação estreita com a comunidade. Há um “Conselho Escolar”, eleito por meio de votação direta, composto por representantes de pais, professores e funcionários, que se reúne uma vez ao mês para sugerir medidas e tomar decisões. “Tenho certeza de que a nossa escola é bem sucedida porque a comunidade tem uma participação efetiva na escola”, afirma Barral.
Há quatro anos, uma parceria com a Escola Nova Nossa Infância, na Pituba, criou um intercâmbio com o objetivo de quebrar as barreiras das diferenças étnicas, sociais e culturais entre os alunos. A integração e a convivência com essas diferenças levaram os alunos da escola privada a tomarem a iniciativa de dividir entre eles o valor das taxas para que fossem tiradas as carteiras de identidade dos alunos da Cid Passos.
Ano passado, a escola participou prêmio “Minha Escola é Tudo de Bom”, um projeto de conservação escolar da Secretaria Municipal de Educação. Apesar de não ter sido classificada, a escola foi inscrita para concorrer ao “Prêmio Sesi Qualidade da Educação”, que contempla as unidades de ensino fundamental que se destacam no Brasil. Mesmo não sendo contemplados, para a diretora Patrícia Barral, a iniciativa já é vencedora.
Fotos: Tom Correia
domingo, 26 de agosto de 2007
Entrevista: Ivete Sacramento
A ex-reitora da Universidade Estadual da Bahia fala sobre educação, racismo e sua indicação para o Prêmio Claudia
Ivete Sacramento nasceu no bairro da Cidade Nova, periferia de Salvador. A independência e a simpatia dessa mulher de 54 anos e mãe de 3 filhos convivem com o seu lado combativo. Pelas suas convicções, já foi acusada de autoritarismo. Sempre estudou em escola pública e aprendeu a tocar acordeon aos 11 anos, com uma tia. Queria ser professora, atriz ou enfermeira, mas a Educação revelou-se como a maior das suas vocações. Aos 19 anos já era professora em Ubaitaba (450 km de Salvador), tudo que mais sonhava na época. Mas foi muito além disso ao fazer Mestrado em Educação na Université du Quebec a Montreal, no Canadá, tornando-se, em 1998, a primeira reitora negra de uma universidade brasileira. Seus dois mandatos na Universidade Estadual da Bahia (UNEB) foram marcados pela implantação da política de cotas para afro-descendentes, despertando reações contrárias e suscitando polêmicas. Já recebeu 25 prêmios e títulos concedidos pela sua atuação como educadora preocupada com a inclusão social do negro e dos seus descendentes. Recentemente tornou-se uma das 15 finalistas do Prêmio Claudia, que através de uma eleição nacional destaca as personalidades femininas que com ações afirmativas fazem a diferença na vida dos brasileiros. Ivete está indicada na categoria Políticas Públicas e é a única negra entre as mais votadas de uma lista de 250 mulheres de todo o Brasil.
Ivete Sacramento nasceu no bairro da Cidade Nova, periferia de Salvador. A independência e a simpatia dessa mulher de 54 anos e mãe de 3 filhos convivem com o seu lado combativo. Pelas suas convicções, já foi acusada de autoritarismo. Sempre estudou em escola pública e aprendeu a tocar acordeon aos 11 anos, com uma tia. Queria ser professora, atriz ou enfermeira, mas a Educação revelou-se como a maior das suas vocações. Aos 19 anos já era professora em Ubaitaba (450 km de Salvador), tudo que mais sonhava na época. Mas foi muito além disso ao fazer Mestrado em Educação na Université du Quebec a Montreal, no Canadá, tornando-se, em 1998, a primeira reitora negra de uma universidade brasileira. Seus dois mandatos na Universidade Estadual da Bahia (UNEB) foram marcados pela implantação da política de cotas para afro-descendentes, despertando reações contrárias e suscitando polêmicas. Já recebeu 25 prêmios e títulos concedidos pela sua atuação como educadora preocupada com a inclusão social do negro e dos seus descendentes. Recentemente tornou-se uma das 15 finalistas do Prêmio Claudia, que através de uma eleição nacional destaca as personalidades femininas que com ações afirmativas fazem a diferença na vida dos brasileiros. Ivete está indicada na categoria Políticas Públicas e é a única negra entre as mais votadas de uma lista de 250 mulheres de todo o Brasil.
Leia a entrevista exclusiva ao Portal Salvador Negroamor.
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Portal SNA – Segundo Rubem Alves se o professor não mudar sua mentalidade, mesmo com toda tecnologia, jamais teremos qualidade na educação. Na sua opinião, qual a função de um educador hoje?
Ivete Sacramento - Acredito que todo mundo pode modificar as coisas, nossa passagem pela vida tem um sentido. Quando passo por um lugar eu tenho um objetivo: é despertar em alguém o seu um potencial transformador. Minha função como educadora é essa. Em qualquer lugar que eu esteja, estou sempre com o olhar do educador, aquele que transforma para melhor. Hoje, o educador negro tem uma responsabilidade ainda maior, a partir da obrigatoriedade da Lei 10.639 [lei que obriga o ensino de História afro-brasileira e africana nas escolas públicas e privadas]. Não devemos trabalhar apenas a questão do folclore e da religiosidade negra, é preciso contextualizar as disciplinas para mostrar aos alunos a importância da África nas nossas vidas. É preciso muito cuidado para não se perpetuar o racismo dentro da sala de aula, quando por exemplo um aluno tem uma atitude racista com o colega.
Ivete Sacramento - Acredito que todo mundo pode modificar as coisas, nossa passagem pela vida tem um sentido. Quando passo por um lugar eu tenho um objetivo: é despertar em alguém o seu um potencial transformador. Minha função como educadora é essa. Em qualquer lugar que eu esteja, estou sempre com o olhar do educador, aquele que transforma para melhor. Hoje, o educador negro tem uma responsabilidade ainda maior, a partir da obrigatoriedade da Lei 10.639 [lei que obriga o ensino de História afro-brasileira e africana nas escolas públicas e privadas]. Não devemos trabalhar apenas a questão do folclore e da religiosidade negra, é preciso contextualizar as disciplinas para mostrar aos alunos a importância da África nas nossas vidas. É preciso muito cuidado para não se perpetuar o racismo dentro da sala de aula, quando por exemplo um aluno tem uma atitude racista com o colega.
SNA – Na sua época de estudante da UFBA, no início dos anos 70, quantos colegas negros existiam na sua sala?
IS - Em cursos como Letras, Pedagogia, na área de Humanas em geral, o negro até consegue ter acesso. Já na área de Saúde e Exatas são as que têm menor quantidade de negros, porque a concorrência é alta e a formação exigida é maior. Na minha turma de quarenta alunos, só havia uns cinco, mas de negra mesmo só tinha eu.
SNA – Existe algum caso em que a senhora tenha sido discriminada?
IS – Existe e foi na época da faculdade. Eu sempre fui muito estudiosa, sempre gostei de ler. Como eu tinha facilidade de escrever, eu fazia os trabalhos de equipe sozinha. Na minha equipe havia uma loira, da alta sociedade, que fez um trato comigo: “vou comprar todos os seus livros, mas você vai fazer todos os meus trabalhos”. O professor passava a bibliografia e ela na dizia na hora, “deixa que eu compro”, [risos]. Eu fazia até as provas. Teve uma de Literatura que fiz para mais três colegas. Eu tirei a menor nota e a loira tirou a maior. O professor começou a elogiar a análise dela, dizendo que nunca havia visto um trabalho tão bom como aquele. A coisa foi tão gritante que a minha colega loira se levantou e disse, “professor, o senhor está cometendo uma grande injustiça, quem fez minha prova foi Ivete”. Hoje em dia, quando ele passa por mim, se derrete dizendo “minha reitora, eu nunca tive uma aluna como essa”... [risos]. Aquilo foi uma forma racismo, ele deu uma nota baseada apenas na aparência, porque para ele eu não era capaz de produzir um texto daquele. Sempre dou esse exemplo nas minhas aulas para mostrar aos meus alunos as várias formas que o racismo sutil assume.
SNA – Sua gestão como reitora da UNEB ficou marcada pela implantação da política de cotas. Como se deu esse processo?
IS - Vivíamos o contexto do Ano Internacional de Combate ao Racismo que propunha medidas de combate ao racismo, à discriminação, à xenofobia, além da possibilidade de sediar um encontro aqui no Brasil. O governo, na época, ficou receoso em “mostrar” para o mundo uma imagem de país racista e recusou a proposta de sediar o evento. O encontro foi transferido para Durban, na África do Sul, e, em função disso, os movimentos negros passaram a pressionar o governo brasileiro. Para dar uma satisfação, o governo nomeou um comitê nacional para preparar a posição do Brasil em relação a essa conferência. Representando a Bahia fomos eu, Dom Gílio e Mãe Stella. Eu assumo todos os ônus da implantação das cotas. Na época, em 2001, fui tida como autoritária, pois não dei tempo para que a proposta fosse mais discutida no âmbito da universidade. Ninguém sabia de fato o que eram ações afirmativas, o que eram medidas de reparação e porque estávamos buscando pôr em prática as cotas. Para respaldar a nossa intenção, uma pesquisa havia sido divulgada pelo IPEA [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], que apontava para aquilo que já sabíamos ao andar pelos campi da UNEB: no Brasil a maior parcela de analfabetos era negra, o jovem negro estava concentrado na escola pública desqualificada e, pior, o acesso do negro à universidade era menos de 1%. Tudo isso me incomodava e mandei fazer uma pesquisa para o vestibular de 2002 quanto à cor dos candidatos. Num universo de 55 mil vestibulandos, apenas 1.500 se declararam negros, dos quais apenas 116 foram aprovados. Colocamos a proposta para votação de uma comissão acadêmica, composta por 35 membros, e somente tivemos apenas três abstenções. A UNEB foi a primeira a implantar efetivamente ações afirmativas por iniciativa própria, ao contrário das universidades do Rio de Janeiro, que foram obrigadas por leis. Hoje, não se discute as cotas, a sociedade já está convencida de que os cotistas têm desempenho acadêmico superior aos não-cotistas. Já estamos formando as primeiras turmas e vamos começar a fazer uma pesquisa com os egressos. Na UNEB o sistema já está institucionalizado, tanto que está sendo implantado o sistema de cotas para os descendentes indígenas, que também é válido, embora os índios da Amazônia já tenham garantido por lei o ingresso imediato à universidade, mas pouca gente sabe disso.
SNA – A senhora já recebeu cerca de 25 prêmios e títulos pela sua atuação como educadora. Como recebeu sua indicação para o Prêmio Claudia?
IS - Depois que completei os meus dois mandatos de reitora, em 2005, eu estava numa fase de querer apenas relaxar. Foram 35 anos de trabalho na Educação e eu também precisava descansar da mídia. Me afastei de tudo e dei um tempo para mim mesma. Fui curtir meus amigos, viajar um pouco, não queria saber de nada sério. Fiquei assim até o ano passado quando passei a me preocupar com o que iria fazer depois que se encerrou um ciclo de minha vida e queria um outro ciclo mais tranquilo, sem tanta responsabilidade. Então, o telefone toca e era da Revista Claudia. Eu disse “minha filha, eu não quero comprar revista nenhuma [risos]”. Ligaram várias vezes até me convencer de que eu era uma das 15 finalistas do prêmio. Ainda reclamei: “eu, finalista?! E quem botou meu nome nessa lista? [mais risos]”. Depois que saiu a indicação na revista as pessoas começaram a me ligar: umas me parabenizando, outras desdenhando do prêmio, por se tratar de uma revista feminina, e para alguns mais ortodoxos, voltada para as mulheres brancas. Acho que justamente por isso, por eu ser a única negra entre as 15 indicadas, que eu entendo a importância desse prêmio. Além do mais, o motivo pelo qual eu fui indicada: por ter sido a primeira reitora negra e, principalmente, por atuar numa área que dá origem a todo desenvolvimento desse país. Acho que não podemos ter preconceito com uma revista voltada para as classes mais altas, já que no futuro quando alguém folhear a revista, eu posso servir de exemplo para mulheres que possam se dedicar à educação ou a qualquer outra área e mudar a realidade do Brasil.
SNA – A senhora tem ambições políticas?
IS - Nunca tive, embora seja assediada por alguns partidos. Por incrível que pareça, eu sou cobrada quase que diariamente por diversas pessoas que me perguntam porque não me candidato. Para você ter idéia, a pressão não tem sido apenas na Bahia, mas em termos de Brasil. Pessoas envolvidas com o movimento negro de diversos estados cobram isso de mim. Eu tenho resistido porque nunca tive essa ambição, eu sempre quis ser professora. Cheguei a ser reitora, mas isso nunca foi minha meta. O problema é que sempre fui muito independente e nenhum partido representa minha causa. Nenhum governo que eu conheça, por mais interessado que seja, vai creditar à Educação a prioridade que lhe é devida, vai creditar à causa de combate ao racismo, à implantação e implementação efetiva e corajosa das ações afirmativas do que jeito que eu penso. Então eu vou me frustrar. Eu não quero ser uma secretária ou ministra da Educação pois, ou se dá prioridade com dinheiro e carta branca para se fazer o trabalho que tem de ser feito, ou todos os secretários vão ser frustrados e vão decepcionar. Um exemplo disso é Cristóvão Buarque, que tem as melhores intenções, os melhores projetos e se indispôs com o presidente Lula por falar a verdade.
Foto: Revista Claudia
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Projeto incentiva artistas populares
Com destaque para a tradição oral de origem africana, Projeto Viva a Cultura Popular tem início em Salvador
De hoje até a próxima quarta-feira (22), o Centro Histórico de Salvador servirá como cenário para o projeto “Viva a Cultura Popular”. A programação prevê uma série de eventos comemorativos às tradições, costumes e manifestações artísticas que expressam a identidade popular baiana com a influência africana. O projeto, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), faz parte do Programa Pelourinho Cultural, que pretende abrir espaços no Pelourinho para que artistas possam se apresentar.
Mediado pelo escritor e poeta Landê Onawalê, o encontro de abertura, realizado no auditório da Praça das Artes, teve como tema “Contos Populares, Orikis e outros 'causos'”. Na oportunidade, professores, historiadores e moradores do antigo Centro Histórico abordaram a tradição oral das histórias contadas pelos antepassados vindos da África. O presidente da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan de Castro, contou para os estudantes as mesmas histórias que ouviu de sua avó e que continham mensagens educativas abordando questões como a inveja e a ambição sem limites.
Uma das marcas do legado da literatura oral africana, são os orikis, espécie de odes ou poemas oferecidos aos orixás, às divindades ou a elementos da Natureza. Segundo a historiadora Vanda Machado, oriki significa “saudação à cabeça” na língua yorubá, já que ao contrário dos colonizadores europeus, os africanos acreditavam que a alma estava na cabeça das pessoas e não no coração. Orikis em homenagem a Oxum, Ogum e Yansã foram recitados e “traduzidos” pela historiadora durante sua palestra.
“Causos” de Exclusão
“Sou um sobrevivente de guerra”. Assim se define o policial militar Albino Apolinário ao contar as dificuldades enfrentadas para superar a discriminação e a exclusão no Centro Histórico. Sua avó, Dona Alzira, chegou ali na década de 40 e anos depois abriria um restaurante que se tornaria famoso, o “Alzira do Conforto”. Com um histórico de resistência, Apolinário viveu num tempo em que se pedia a benção a prostitutas, homossexuais e traficantes. Abriu, nos anos 70, o primeiro Bar do Reggae no local e lembra que foi discriminado pelos outros comerciantes. “Na minha época, o negro que vestisse a cor vermelha era chamado de diabo”, disse. Presidente de uma Associação de Moradores do Pelourinho, ele ainda denunciou que vem sendo alvo de perseguição nos últimos dez anos, desde que a reforma no Centro Histórico foi iniciada.
Foto: Tom Correia
De hoje até a próxima quarta-feira (22), o Centro Histórico de Salvador servirá como cenário para o projeto “Viva a Cultura Popular”. A programação prevê uma série de eventos comemorativos às tradições, costumes e manifestações artísticas que expressam a identidade popular baiana com a influência africana. O projeto, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), faz parte do Programa Pelourinho Cultural, que pretende abrir espaços no Pelourinho para que artistas possam se apresentar.
Mediado pelo escritor e poeta Landê Onawalê, o encontro de abertura, realizado no auditório da Praça das Artes, teve como tema “Contos Populares, Orikis e outros 'causos'”. Na oportunidade, professores, historiadores e moradores do antigo Centro Histórico abordaram a tradição oral das histórias contadas pelos antepassados vindos da África. O presidente da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan de Castro, contou para os estudantes as mesmas histórias que ouviu de sua avó e que continham mensagens educativas abordando questões como a inveja e a ambição sem limites.
Uma das marcas do legado da literatura oral africana, são os orikis, espécie de odes ou poemas oferecidos aos orixás, às divindades ou a elementos da Natureza. Segundo a historiadora Vanda Machado, oriki significa “saudação à cabeça” na língua yorubá, já que ao contrário dos colonizadores europeus, os africanos acreditavam que a alma estava na cabeça das pessoas e não no coração. Orikis em homenagem a Oxum, Ogum e Yansã foram recitados e “traduzidos” pela historiadora durante sua palestra.
“Causos” de Exclusão
“Sou um sobrevivente de guerra”. Assim se define o policial militar Albino Apolinário ao contar as dificuldades enfrentadas para superar a discriminação e a exclusão no Centro Histórico. Sua avó, Dona Alzira, chegou ali na década de 40 e anos depois abriria um restaurante que se tornaria famoso, o “Alzira do Conforto”. Com um histórico de resistência, Apolinário viveu num tempo em que se pedia a benção a prostitutas, homossexuais e traficantes. Abriu, nos anos 70, o primeiro Bar do Reggae no local e lembra que foi discriminado pelos outros comerciantes. “Na minha época, o negro que vestisse a cor vermelha era chamado de diabo”, disse. Presidente de uma Associação de Moradores do Pelourinho, ele ainda denunciou que vem sendo alvo de perseguição nos últimos dez anos, desde que a reforma no Centro Histórico foi iniciada.
Foto: Tom Correia
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Intercâmbio Brasil-África: literatura, educação e ações afirmativas
UNEB promove série de encontros e debates sobre a identidade africana no Brasil
A Universidade Estadual da Bahia (UNEB), em parceria com o Programa de Pós Graduação em Estudo de Linguagens (Ppgel), recebeu nesta quarta (15) professores, estudiosos, pesquisadores e militantes da causa negra para debaterem sobre a relação atual da identidade Brasil-África. Foram abordados temas como literatura e idiomas oriundos da África, a questão do ensino de história africana nas escolas brasileiras e formas de exclusão de escritores negros brasileiros.
Segundo os organizadores, um dos objetivos do encontro foi aprofundar o conhecimento sobre as línguas desenvolvidas na África, salientando as diversas vertentes literárias encontradas naquele continente, baseadas, ou não, na língua portuguesa. “Este encontro possibilita que as pessoas entendam um pouco mais sobre a importância dos africanos na construção do Brasil”, afirmou a historiadora Yeda de Castro, uma das idealizadoras do evento.
O professor Charles Moore, da Universidade do Caribe, sediada na Jamaica, foi enfático ao analisar as contradições entre a África idealizada e a África real. “Nós amamos a África e reconhecemos o continente em nós, mas precisamos desmistificá-lo. Hoje o racismo é um fator globalizado, um fator que afeta todas as sociedades”, disse Moore, especialista em política internacional e um dos mais conceituados estudiosos do pan-africanismo.
Bahia pioneira
A professora Marli Geralda Teixeira, doutora em História Social, além de tratar da pesquisa de fontes escritas e tradição oral, destacou que a Universidade Federal da Bahia foi a primeira do Brasil a adotar a disciplina História da África na sua grade curricular. “Isso aconteceu nos anos 60, época do Regime Militar e a nossa dificuldade em conseguir livros sobre o tema era enorme”, afirmou. Ela explicou ainda que foi a partir desse núcleo de professores e alunos que surgiu o Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO).
A influência em todos os níveis e a relação sócio-cultural entre brasileiros e africanos foram ressaltadas pelos palestrantes. Desde o português falado em países como Brasil e Angola à produção de literatura e música, ou ainda da prática religiosa aos gritos dos que se revoltaram contra as todas práticas de discriminação, o encontro revelou que há muito mais da África no Brasil do que comumente se supõe.
Foto: Tom Correia
A Universidade Estadual da Bahia (UNEB), em parceria com o Programa de Pós Graduação em Estudo de Linguagens (Ppgel), recebeu nesta quarta (15) professores, estudiosos, pesquisadores e militantes da causa negra para debaterem sobre a relação atual da identidade Brasil-África. Foram abordados temas como literatura e idiomas oriundos da África, a questão do ensino de história africana nas escolas brasileiras e formas de exclusão de escritores negros brasileiros.
Segundo os organizadores, um dos objetivos do encontro foi aprofundar o conhecimento sobre as línguas desenvolvidas na África, salientando as diversas vertentes literárias encontradas naquele continente, baseadas, ou não, na língua portuguesa. “Este encontro possibilita que as pessoas entendam um pouco mais sobre a importância dos africanos na construção do Brasil”, afirmou a historiadora Yeda de Castro, uma das idealizadoras do evento.
O professor Charles Moore, da Universidade do Caribe, sediada na Jamaica, foi enfático ao analisar as contradições entre a África idealizada e a África real. “Nós amamos a África e reconhecemos o continente em nós, mas precisamos desmistificá-lo. Hoje o racismo é um fator globalizado, um fator que afeta todas as sociedades”, disse Moore, especialista em política internacional e um dos mais conceituados estudiosos do pan-africanismo.
Bahia pioneira
A professora Marli Geralda Teixeira, doutora em História Social, além de tratar da pesquisa de fontes escritas e tradição oral, destacou que a Universidade Federal da Bahia foi a primeira do Brasil a adotar a disciplina História da África na sua grade curricular. “Isso aconteceu nos anos 60, época do Regime Militar e a nossa dificuldade em conseguir livros sobre o tema era enorme”, afirmou. Ela explicou ainda que foi a partir desse núcleo de professores e alunos que surgiu o Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO).
A influência em todos os níveis e a relação sócio-cultural entre brasileiros e africanos foram ressaltadas pelos palestrantes. Desde o português falado em países como Brasil e Angola à produção de literatura e música, ou ainda da prática religiosa aos gritos dos que se revoltaram contra as todas práticas de discriminação, o encontro revelou que há muito mais da África no Brasil do que comumente se supõe.
Foto: Tom Correia
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Ações da NAFRO-PM buscam reparação e respeito às tradições
Palestras destacam atuação do núcleo afro-religioso da Polícia Militar da Bahia
Para comemorar os dois anos de fundação do Núcleo de Religiões de Matrizes Africanas da Polícia Militar do Estado da Bahia (NAFRO-PM), representantes de órgãos municipais, doutores em história africana e adeptos do Candomblé estiveram presentes nesta quinta-feira (09) no auditório do Ministério Público em Salvador.
Criado como forma de combater práticas preconceituosas e pejorativas entre policiais e servidores civis, o Nafro-PM, além de promover a difusão do conhecimento dos fundamentos religiosos no âmbito da corporação, promove ainda ações práticas que visam o combate a qualquer tipo de preconceito e discriminação dentro e fora dos quartéis. O comandante geral da PM no estado, Coronel Jorge Santana, um dos maiores incentivadores da iniciativa, se disse bastante orgulhoso ao ver a aceitação do núcleo. “A intolerância religiosa dentro da PM não existe mais. A prova disso é que temos presentes aqui um capelão evangélico, um capelão católico e um representante do núcleo espírita”, disse.
O sargento Eurico Alcântara, coordenador da Nafro-PM e Babalorixá do Terreiro Aloyá, localizado em Itapuã, afirmou que uma das atribuições do núcleo é conseguir licenças e afastamentos para que policiais cumpram suas obrigações religiosas. “Já temos 274 inscritos no núcleo e aos poucos os outros estão entendendo que o policial que assume sua religiosidade não comete os desatinos que seus colegas já cometeram”, destacou.
Reparação Histórica
A partir de 1920 a prática do Candomblé na Bahia sofreu forte repressão, quando seus adeptos eram perseguidos por policiais. Essas ações refletiam o pensamento de toda a sociedade baiana e não apenas da corporação. A criação do núcleo religioso dentro de uma instituição com quase duzentos anos de tradição como a Polícia Militar, é um avanço sem precedentes. O historiador Jaime Sodré foi enfático: “É a primeira vez na história que a PM se volta para a nossa ascendência africana”.
Nesses dois anos, a Nafro-PM, em parceria com o Quilombo Asantewaa – Centro de Formação para Mulheres Negras, desenvolveu um curso de relações raciais para cinqüenta policiais femininas. O curso teve disciplinas como “História do Negro na Bahia” e “Violências Policial, Racial e de Gênero”, além de “Cidadania e Segurança Pública”. Uma segunda experiência na área pedagógica foi uma capacitação em relações étnico-raciais, que formou cinqüenta multiplicadores entre sargentos e soldados.
Foto: Tom Correia
Para comemorar os dois anos de fundação do Núcleo de Religiões de Matrizes Africanas da Polícia Militar do Estado da Bahia (NAFRO-PM), representantes de órgãos municipais, doutores em história africana e adeptos do Candomblé estiveram presentes nesta quinta-feira (09) no auditório do Ministério Público em Salvador.
Criado como forma de combater práticas preconceituosas e pejorativas entre policiais e servidores civis, o Nafro-PM, além de promover a difusão do conhecimento dos fundamentos religiosos no âmbito da corporação, promove ainda ações práticas que visam o combate a qualquer tipo de preconceito e discriminação dentro e fora dos quartéis. O comandante geral da PM no estado, Coronel Jorge Santana, um dos maiores incentivadores da iniciativa, se disse bastante orgulhoso ao ver a aceitação do núcleo. “A intolerância religiosa dentro da PM não existe mais. A prova disso é que temos presentes aqui um capelão evangélico, um capelão católico e um representante do núcleo espírita”, disse.
O sargento Eurico Alcântara, coordenador da Nafro-PM e Babalorixá do Terreiro Aloyá, localizado em Itapuã, afirmou que uma das atribuições do núcleo é conseguir licenças e afastamentos para que policiais cumpram suas obrigações religiosas. “Já temos 274 inscritos no núcleo e aos poucos os outros estão entendendo que o policial que assume sua religiosidade não comete os desatinos que seus colegas já cometeram”, destacou.
Reparação Histórica
A partir de 1920 a prática do Candomblé na Bahia sofreu forte repressão, quando seus adeptos eram perseguidos por policiais. Essas ações refletiam o pensamento de toda a sociedade baiana e não apenas da corporação. A criação do núcleo religioso dentro de uma instituição com quase duzentos anos de tradição como a Polícia Militar, é um avanço sem precedentes. O historiador Jaime Sodré foi enfático: “É a primeira vez na história que a PM se volta para a nossa ascendência africana”.
Nesses dois anos, a Nafro-PM, em parceria com o Quilombo Asantewaa – Centro de Formação para Mulheres Negras, desenvolveu um curso de relações raciais para cinqüenta policiais femininas. O curso teve disciplinas como “História do Negro na Bahia” e “Violências Policial, Racial e de Gênero”, além de “Cidadania e Segurança Pública”. Uma segunda experiência na área pedagógica foi uma capacitação em relações étnico-raciais, que formou cinqüenta multiplicadores entre sargentos e soldados.
Foto: Tom Correia
terça-feira, 26 de junho de 2007
Cinema e Antropologia: instrumentos de denúncia social
Em palestra no CEAO, antropólogo francês e estudantes universitários debatem sobre “Ciência e Antropologia”
Estudantes universitários, cinéfilos, professores e antropólogos compareceram, na manhã de ontem (25), à palestra do professor François Laplantine sobre “Cinema e Antropologia”, no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO). Doutor em Filosofia e Antropologia pelas Universidades de Nanterre e Sorbonne, respectivamente, Laplantine veio a Salvador a convite do CEAO para participar do I Seminário Lyon-Salvador, sobre universidade e diversidade cultural.
Durante o evento foram exibidos três curtas-metragens. Dois deles de autoria do documentarista armênio Pelechian, considerado uma voz ativa contra o genocídio praticado no seu país. Seus filmes “Fim” e “Vida” são ao mesmo tempo uma forma de denúncia social e uma celebração à existência.
Laplatine explicou a importância da antropologia na relação com o cinema. Segundo ele, o cinema possui a faculdade de mostrar com mais exatidão as interações entre os atores sociais, algo que as produções acadêmicas se ressentem. “A antropologia também tem sua função crítica e não pode deixar de ser engajada. Além disso o negro tem marcado presença no cinema de uma maneira muito intensa”, afirmou o antropólogo.
O Negro e o Cinema
O mestrando em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia – Ufba, Carlos Ailton, não vê no atual panorama brasileiro e mundial um engajamento em torno de um resgate sério da temática negra por parte do cinema. “O negro ainda é considerado um objeto exótico, já que a estética fílmica que prevalece ainda é eurocêntrica”, diz. Segundo Ailton, apenas cineastas como o norte-americano Spike Lee, desconstroem essa visão rançosa do negro no cinema.
No caso da TV a abordagem do negro resvala no mesmo lugar-comum de antes. “A TV se esforça tanto para dar um lugar de destaque ao negro que termina resvalando na caricatura, no folclore”, afirmou o mestrando. Ele citou o exemplo do ator baiano Lázaro Ramos, que recentemente foi protagonista de uma novela da Globo. “Lázaro está sendo transformado num ícone da visão folclorizada do negro, basta analisar seu último personagem, Foguinho”.
Sobre o filme “Ó pai ó” dirigido por Monique Gardenberg e baseado numa peça encenada pelo Bando de Teatro Olodum, Ailton declarou que não se trata de uma obra de ficção, já que não se vê no filme a construção de uma narrativa. “Tudo ali foi feito em cima de bricolagens e clipagens, mostrando o afrodescendente como dionisíaco e irresponsável, reforçando o estereótipo do negro. Na verdade, ainda existe uma relação de ‘coisificação’ na abordagem do negro pelo cinema e pela tv”, declara.
Foto: Tom Correia
sexta-feira, 15 de junho de 2007
Música alternativa promove transformações sociais na Bahia
DJ’s de Salvador falam sobre mercado, inclusão social e suas experiências pessoais para jovens da periferia.
Música eletrônica, transformação social e troca de experiências. Com esses temas o Encontro de DJ’s, que aconteceu neste sábado (14) no Baobá Café Social, trouxe os DJ’s Bandido, Pablo Florentino e André Urso, que falaram sobre suas carreiras, o panorama atual para os artistas e as interferências realizadas na periferia de Salvador através do hip hop, house e rap. Na platéia, jovens integrantes de projetos sociais, que tem a produção musical como base, participando com questionamentos e reflexões sobre o que é fazer uma música minoritária e de contestação, na capital baiana.
Ponto principal no discurso dos três palestrantes, foi unânime acentuar a dificuldade encontrada no mercado de trabalho. Os entraves estão presentes desde a desvalorização do profissional, passando pelos espaços restritos, falta de apoio e o alto investimento a ser dado na carreira (equipamento caro e discos de vinil chegam a custar R$ 80 cada, quando são usados numa noite, em média 50 discos). “Já me ofereceram R$ 200 para tocar durante seis horas no carnaval, isso é exploração”, diz Bandido. Ele, que passou quatro anos pesquisando antes de se apresentar pela primeira vez em público, aconselha a pesquisa para cada um conheça o seu estilo musical. “Estudem para conhecer a sua história, pois ela é seu estilo”, diz o morador do Nordeste de Amaralina, que já ministrou diversas oficinas em comunidades carentes.
André Urso, atuante no cenário da cidade há sete anos, quando começou a fazer parte da Pragatecno, enfatizou o aspecto histórico da produção musical. Urso acredita que seu trabalho é inclusivo a partir do momento em que permite a liberdade de expressão e pensamento. “A música sempre foi feita para incluir. Um instante de prazer que ela produz pode mudar os valores de quem a escuta”, diz. De mesma opinião, Pablo Florentino, o DJ Netuno, pesquisador do tema há cinco anos, morou no Rio e em São Paulo onde, além de notar que o tratamento dado aos DJ’s é diferenciado, entendeu a importância da música de raiz. Para ele é necessário fazer um resgate da música brasileira. “Ela pode nos influenciar como mensagem e como meio de informação”, afirma.
Entretanto, apesar do cenário desfavorável, novos grupos continuam a surgir. O Mini Stereo Público, composto de dez integrantes, nasceu há dois anos com a proposta de realizar interferências, em parceria com grafiteiros, em bairros como Saramandaia, Massaranduba e Boca do Rio, mesmo sem contar com nenhum tipo de incentivo público ou privado. Segundo um dos integrantes, Dj Dudu, “ser DJ é ser um guerrilheiro da música”, declara.
Inclusão Social e transformação
Moradores do Nordeste de Amaralina, Sueli Santos, Marcos Ramos e Joni Moreira, do grupo Na Linha do Caos, realizaram, em 2005, o Festival Ambulante de Hip Hop. O evento reuniu cerca de duas mil pessoas, engajadas com as letras das canções de protesto. Segundo eles, o hip hop transforma as pessoas através da sua linguagem, desde que elas estejam prontas para aceitar a transformação.
Fotos: Tom Correia
Música eletrônica, transformação social e troca de experiências. Com esses temas o Encontro de DJ’s, que aconteceu neste sábado (14) no Baobá Café Social, trouxe os DJ’s Bandido, Pablo Florentino e André Urso, que falaram sobre suas carreiras, o panorama atual para os artistas e as interferências realizadas na periferia de Salvador através do hip hop, house e rap. Na platéia, jovens integrantes de projetos sociais, que tem a produção musical como base, participando com questionamentos e reflexões sobre o que é fazer uma música minoritária e de contestação, na capital baiana.
Ponto principal no discurso dos três palestrantes, foi unânime acentuar a dificuldade encontrada no mercado de trabalho. Os entraves estão presentes desde a desvalorização do profissional, passando pelos espaços restritos, falta de apoio e o alto investimento a ser dado na carreira (equipamento caro e discos de vinil chegam a custar R$ 80 cada, quando são usados numa noite, em média 50 discos). “Já me ofereceram R$ 200 para tocar durante seis horas no carnaval, isso é exploração”, diz Bandido. Ele, que passou quatro anos pesquisando antes de se apresentar pela primeira vez em público, aconselha a pesquisa para cada um conheça o seu estilo musical. “Estudem para conhecer a sua história, pois ela é seu estilo”, diz o morador do Nordeste de Amaralina, que já ministrou diversas oficinas em comunidades carentes.
André Urso, atuante no cenário da cidade há sete anos, quando começou a fazer parte da Pragatecno, enfatizou o aspecto histórico da produção musical. Urso acredita que seu trabalho é inclusivo a partir do momento em que permite a liberdade de expressão e pensamento. “A música sempre foi feita para incluir. Um instante de prazer que ela produz pode mudar os valores de quem a escuta”, diz. De mesma opinião, Pablo Florentino, o DJ Netuno, pesquisador do tema há cinco anos, morou no Rio e em São Paulo onde, além de notar que o tratamento dado aos DJ’s é diferenciado, entendeu a importância da música de raiz. Para ele é necessário fazer um resgate da música brasileira. “Ela pode nos influenciar como mensagem e como meio de informação”, afirma.
Entretanto, apesar do cenário desfavorável, novos grupos continuam a surgir. O Mini Stereo Público, composto de dez integrantes, nasceu há dois anos com a proposta de realizar interferências, em parceria com grafiteiros, em bairros como Saramandaia, Massaranduba e Boca do Rio, mesmo sem contar com nenhum tipo de incentivo público ou privado. Segundo um dos integrantes, Dj Dudu, “ser DJ é ser um guerrilheiro da música”, declara.
Inclusão Social e transformação
Moradores do Nordeste de Amaralina, Sueli Santos, Marcos Ramos e Joni Moreira, do grupo Na Linha do Caos, realizaram, em 2005, o Festival Ambulante de Hip Hop. O evento reuniu cerca de duas mil pessoas, engajadas com as letras das canções de protesto. Segundo eles, o hip hop transforma as pessoas através da sua linguagem, desde que elas estejam prontas para aceitar a transformação.
Fotos: Tom Correia
sábado, 9 de junho de 2007
Selo da Diversidade
Em busca de parcerias, governo municipal visa identificar empresas que promovam inclusão de afrodescendentes no mercado de trabalho
Criado com o objetivo de combater as desigualdades raciais no mercado de trabalho, o Selo da Diversidade, iniciativa inédita no país, faz parte de um amplo programa da Prefeitura de Salvador que visa combater o racismo institucional. A proposta é que empresas recebam o selo e sejam identificadas como parceiras na luta contra a discriminação. A coordenação do programa é de responsabilidade da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), órgão que articula as políticas públicas de promoção da igualdade racial em Salvador, junto a instituições governamentais e a iniciativa privada.
Debatido publicamente em maio passado na palestra “Inserção de jovens afrodescendentes no mercado de trabalho”, promovida pela Semur, o Instituto Iris e o Senac, o Selo foi apresentado a potenciais futuros parceiros do programa, como os shoppings Barra, Center Lapa, Iguatemi e Piedade. “Estamos ainda em fase de sensibilização, as empresas ainda resistem um pouco a se comprometer com a nossa proposta”, afirma Antônia Garcia, subsecretária da Semur. Ela disse ainda que é necessária uma atenção especial às formas sutis de discriminação. “Não podemos mais admitir que o bairro do candidato seja utilizado como critério de seleção das empresas”, concluiu.
Uma outra ação de inclusão social promovida pela Semur, Instituto Iris e o Senac, foi o curso de consultoria de vendas para 60 alunos afrodescendentes, divididos em duas turmas. A assistente do Centro de Educação e Tecnologia do Senac, Silvânia Veloso, afirma que a evasão e reprovação foram mínimas. “O Senac também tem essa preocupação com a responsabilidade social e ao final de cada curso, disponibilizamos na nossa página virtual os nomes e contatos dos alunos qualificados.”
Moradora do bairro de Sete de Abril, Carla Cristina, 26, foi uma das integrantes da capacitação. “O curso valeu a pena principalmente devido à parte prática. Além do conteúdo teórico, as visitas técnicas e os contatos com profissionais foram importantes”. Há dois meses trabalhando na Companhia de Seguros Mongeral, como consultora de benefícios, Cristina teve seu currículo enviado à empresa pelo Senac, logo após a conclusão do curso.
Criado com o objetivo de combater as desigualdades raciais no mercado de trabalho, o Selo da Diversidade, iniciativa inédita no país, faz parte de um amplo programa da Prefeitura de Salvador que visa combater o racismo institucional. A proposta é que empresas recebam o selo e sejam identificadas como parceiras na luta contra a discriminação. A coordenação do programa é de responsabilidade da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), órgão que articula as políticas públicas de promoção da igualdade racial em Salvador, junto a instituições governamentais e a iniciativa privada.
Debatido publicamente em maio passado na palestra “Inserção de jovens afrodescendentes no mercado de trabalho”, promovida pela Semur, o Instituto Iris e o Senac, o Selo foi apresentado a potenciais futuros parceiros do programa, como os shoppings Barra, Center Lapa, Iguatemi e Piedade. “Estamos ainda em fase de sensibilização, as empresas ainda resistem um pouco a se comprometer com a nossa proposta”, afirma Antônia Garcia, subsecretária da Semur. Ela disse ainda que é necessária uma atenção especial às formas sutis de discriminação. “Não podemos mais admitir que o bairro do candidato seja utilizado como critério de seleção das empresas”, concluiu.
Uma outra ação de inclusão social promovida pela Semur, Instituto Iris e o Senac, foi o curso de consultoria de vendas para 60 alunos afrodescendentes, divididos em duas turmas. A assistente do Centro de Educação e Tecnologia do Senac, Silvânia Veloso, afirma que a evasão e reprovação foram mínimas. “O Senac também tem essa preocupação com a responsabilidade social e ao final de cada curso, disponibilizamos na nossa página virtual os nomes e contatos dos alunos qualificados.”
Moradora do bairro de Sete de Abril, Carla Cristina, 26, foi uma das integrantes da capacitação. “O curso valeu a pena principalmente devido à parte prática. Além do conteúdo teórico, as visitas técnicas e os contatos com profissionais foram importantes”. Há dois meses trabalhando na Companhia de Seguros Mongeral, como consultora de benefícios, Cristina teve seu currículo enviado à empresa pelo Senac, logo após a conclusão do curso.
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