Terreiro Casa Branca oferece cursos gratuitos à comunidade num ambiente familiar e de tolerância religiosa.
Aprender técnicas de corte e costura, bordado, roupas de orixás e panos da costa num ambiente onde a diversidade é bem vinda. Dessa forma pode ser definido o Espaço Vovó Conceição, inaugurado em março deste ano por Dona Cinha, ekede do Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca) , localizado na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. Segundo a coordenadora do espaço, a idéia do projeto já tem mais de 20 anos, mas somente pôde ser realizado com o apoio de uma ONG que vem estimulando ações comunitárias em quinze terreiros da capital baiana.
Em abril passado foi iniciada a primeira turma de corte e costura em parceria com a ONG carioca “Koinonia", que cedeu catorze máquinas de costura, tecidos, linhas e acessórios. “O nosso objetivo é preservar a tradição das comunidades dos terreiros e valorizar as iniciativas de capacitação que se transformem em fontes de renda para as pessoas”, declarou Mara Vanessa, coordenadora pedagógica da organização em Salvador. Das quarenta inscritas, apenas quatro não se formaram porque conseguiram emprego.
Para Dona Cinha, o projeto, além de realizar um sonho antigo, também resgata a antiga tradição das comunidades do axé, que sempre produziram suas próprias roupas e adereços dos orixás. “Ultimamente, estamos comprando roupas no Mercado Modelo e no Pelourinho na mão de pessoas que não têm nada a ver com a nossa religião. As roupas de orixás precisam de um tratamento diferenciado, já que a energia de quem faz as roupas é diferente de quem apenas comercializa os produtos”, disse a ekede. Em relação às diferenças sociais e religiosas das alunas, ela é taxativa: “O Candomblé é a religião do amor e do respeito ao próximo, independente de cor, raça, opção sexual, de situação financeira. Estamos abertos a todos os segmentos sociais, sempre com respeito”.
Sem ser adepta de nenhuma religião, a professora Maria José ressalta a transformação das alunas oriundas de famílias preconceituosas em relação ao Candomblé. “Elas chegam aqui desconfiadas, resistentes, esperando encontrar algum tipo de monstro. Mas com o tempo elas percebem a energia da casa, da proposta do espaço e passam a fazer parte da nossa família”. Ela afirmou ainda que no espaço há o costume de ouvir umas às outras para identificar as necessidades e uma maneira de ajudar o outro.
Novas Turmas
Funcionando de segunda a quinta, o Vovó Conceição promove às sextas uma troca de conhecimento entre as alunas: quem sabe fazer algo ensina às colegas. Desde bolsas, bonecas, até a bainha aberta, uma espécie de bordado a mão para panos da costa. Também estão no programa aulas de Direito e Cidadania. A aluna Lícia Santos, pertencente ao Terreiro Oxumaré, freqüentou as aulas de corte e costura e pretende se tornar uma empreendedora. “Quero abrir meu próprio ateliê para produzir roupas e acessórios que aprendi a fazer aqui”, declarou. Entre e fevereiro e março de 2008, uma nova turma deverá ser montada e novos cursos deverão ser oferecidos gratuitamente.
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