quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Fred Hamptom Jr. quer estreitar laços entre os movimentos negros

Filho de um dos fundadores dos Panteras Negras visita a Bahia pela primeira vez para estabelecer rede panafricanista

“Enquanto existir fome, AIDS, guerras e pobreza na África, todos os dias serão um 11 de setembro para nós”. Essa foi uma das afirmações de Fred Hamptom Jr. durante conferência nesta terça-feira (13) realizada na Biblioteca Pública do Estado, nos Barris. O ativista norte-americano veio ao Brasil a convite do Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos (CNNC) para falar do legado deixado pelo seu pai, Fred Hamptom, assassinado aos 21 anos pela polícia de Chicago, no dia 4 de dezembro de 1969.

O tema do encontro foi “Tecendo as Redes Panafricanistas” e representantes de diversas entidades atuantes na Bahia estiveram presentes. Michel Chagas, integrante da “Campanha Reaja ou Será Morto! Reaja ou Será Morta!” acusou a política de “genocídio” praticada pelos governantes brasileiros. “Vamos transformar cada morte de negro e negra na periferia num ato político”, anunciou. Ele disse ainda que a campanha também se inspirou nas atuações nos anos 70 do grupo revolucionário negro norte-americano. Para Suzete Lima, secretária-geral do CNNC, a vinda de Hamptom Jr. veio promover um intercâmbio com as organizações envolvidas com o movimento negro no Brasil e na Bahia. “Através da história do pai dele, que ajudou a fundar os Panteras Negras, os jovens que assistiram sua palestra puderam conhecer de perto o que é lutar contra a opressão”, declarou.

Hamptom Jr. envolveu-se desde cedo na luta contra a discriminação racial do seu país e aos 20 anos já era presidente de um movimento defensor dos direitos dos negros nos Estados Unidos. Passou a ser perseguido pelo governo e terminou condenado a nove anos de prisão em “campos de concentração” do estado de Illinois. Foi libertado em 2001 e intensificou as atividades do Comitê Prisioneiros da Consciência (POCC), fundado por ele quando ainda estava na cadeia. “Hoje mantemos contato com líderes de movimentos na Tanzânia e Gana, mas também precisamos nos aproximar mais dos nossos irmãos no Brasil”, afirmou.

Panteras Negras
O partido de ambições revolucionárias foi criado por Huey Newton e Bobby Seale em 1966 na Califórnia, Estados Unidos. Originalmente o grande objetivo dos seus partidários era proteger os guetos negros das ações repressoras e violentas por parte da polícia norte-americana, mas o grupo foi se tornando cada vez mais político. Os Panteras Negras foram aos poucos se consolidando ao reivindicar do governo isenção de impostos para os negros e compensação pelos séculos de exploração pela escravatura. No auge do grupo, cerca de 2 mil ativistas elevaram a auto-estima negra com a expansão do Movimento Black Power. Em meados dos anos 80 o grupo se desfez, mas a herança deixada por líderes como Fred Hamptom permanece espalhada no mundo inteiro até hoje.

Foto: Tom Correia