Com destaque para a tradição oral de origem africana, Projeto Viva a Cultura Popular tem início em Salvador
De hoje até a próxima quarta-feira (22), o Centro Histórico de Salvador servirá como cenário para o projeto “Viva a Cultura Popular”. A programação prevê uma série de eventos comemorativos às tradições, costumes e manifestações artísticas que expressam a identidade popular baiana com a influência africana. O projeto, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), faz parte do Programa Pelourinho Cultural, que pretende abrir espaços no Pelourinho para que artistas possam se apresentar.
Mediado pelo escritor e poeta Landê Onawalê, o encontro de abertura, realizado no auditório da Praça das Artes, teve como tema “Contos Populares, Orikis e outros 'causos'”. Na oportunidade, professores, historiadores e moradores do antigo Centro Histórico abordaram a tradição oral das histórias contadas pelos antepassados vindos da África. O presidente da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan de Castro, contou para os estudantes as mesmas histórias que ouviu de sua avó e que continham mensagens educativas abordando questões como a inveja e a ambição sem limites.
Uma das marcas do legado da literatura oral africana, são os orikis, espécie de odes ou poemas oferecidos aos orixás, às divindades ou a elementos da Natureza. Segundo a historiadora Vanda Machado, oriki significa “saudação à cabeça” na língua yorubá, já que ao contrário dos colonizadores europeus, os africanos acreditavam que a alma estava na cabeça das pessoas e não no coração. Orikis em homenagem a Oxum, Ogum e Yansã foram recitados e “traduzidos” pela historiadora durante sua palestra.
“Causos” de Exclusão
“Sou um sobrevivente de guerra”. Assim se define o policial militar Albino Apolinário ao contar as dificuldades enfrentadas para superar a discriminação e a exclusão no Centro Histórico. Sua avó, Dona Alzira, chegou ali na década de 40 e anos depois abriria um restaurante que se tornaria famoso, o “Alzira do Conforto”. Com um histórico de resistência, Apolinário viveu num tempo em que se pedia a benção a prostitutas, homossexuais e traficantes. Abriu, nos anos 70, o primeiro Bar do Reggae no local e lembra que foi discriminado pelos outros comerciantes. “Na minha época, o negro que vestisse a cor vermelha era chamado de diabo”, disse. Presidente de uma Associação de Moradores do Pelourinho, ele ainda denunciou que vem sendo alvo de perseguição nos últimos dez anos, desde que a reforma no Centro Histórico foi iniciada.
Foto: Tom Correia
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
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