Lançamento de livro e cd marcam homenagens ao artista plástico e líder religioso
Na última sexta-feira (21) foi lançado, no Palacete das Artes em Salvador, o livro “Mestre Didi, 90 anos: autos coreográficos”, publicação que reúne fotografias, composições alegóricas do Candomblé e um cd com cânticos gravados pelo líder religioso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi. Sem conceder entrevistas desde 1975, quando recebeu o título de Alapini, o mais alto grau da hierarquia da representação nagô, o autor completou nove décadas no início deste mês.
Para marcar a passagem do aniversário do artista plástico, a Sociedade de Estudos de Cultura Negra no Brasil (SECNEB) em parceria com a Editora Corrupio, promoveu noite de autógrafos que contou a presença de artistas, povo de santo e admiradores da vida e obra do autor. Durante o lançamento houve uma performance do coreógrafo norte-americano Clyde Morgan, um dos grandes colaboradores do mestre. “Quando cheguei ao Brasil nos anos 70, o trabalho de Didi foi o primeiro que encontrei com profundidade filosófica”, declara Morgan. “Ele é único porque sua sensibilidade consegue transformar toda sua sabedoria numa linguagem acessível, mas sem torná-la simplista”, conclui.
Afirmando ser impossível sintetizar o que representa o trabalho do Mestre Didi, a historiadora Vanda Machado acredita que o líder é o grande pai da família afro-brasileira. “Sua postura patriarcal tem muito também de liderança política. Seu nome será sempre uma referência obrigatória dentro da cultura afro-religiosa em todo o mundo”, afirma. Já Arlete Soares, editora-chefe da Corrupio, destacou o esforço conjunto para que a homenagem fosse concretizada. “Sem a união daqueles que reconhecem o trabalho de um artista desse porte, a publicação teria sido inviável, principalmente sem o apoio do Fundo de Cultura”, concluiu.
Tradição e Arte
Único filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, Mestre Didi é o mais antigo descendente brasileiro do reino africano de ketu. Autor de uma série de livros, o artista já expôs suas esculturas e instalações nas mais importantes bienais do Brasil e do exterior. Seus trabalhos, feitos de materiais como búzios africanos, contas vegetais, palha da costa e couro, recriam as simbologias e emblemas do culto nagô. A antropóloga argentina, Juanita Elbein dos Santos, esposa do Mestre Didi há quase 40 anos, além de sua grande incentivadora, foi a organizadora do livro. Ela acredita que o mais importante para o marido é a gratidão das pessoas. “Ter o trabalho reconhecido e valorizado é o sonho de todo artista”, afirmou.
Foto: Divulgação
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
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