quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Mestre Didi, 90 anos

Lançamento de livro e cd marcam homenagens ao artista plástico e líder religioso

Na última sexta-feira (21) foi lançado, no Palacete das Artes em Salvador, o livro “Mestre Didi, 90 anos: autos coreográficos”, publicação que reúne fotografias, composições alegóricas do Candomblé e um cd com cânticos gravados pelo líder religioso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi. Sem conceder entrevistas desde 1975, quando recebeu o título de Alapini, o mais alto grau da hierarquia da representação nagô, o autor completou nove décadas no início deste mês.

Para marcar a passagem do aniversário do artista plástico, a Sociedade de Estudos de Cultura Negra no Brasil (SECNEB) em parceria com a Editora Corrupio, promoveu noite de autógrafos que contou a presença de artistas, povo de santo e admiradores da vida e obra do autor. Durante o lançamento houve uma performance do coreógrafo norte-americano Clyde Morgan, um dos grandes colaboradores do mestre. “Quando cheguei ao Brasil nos anos 70, o trabalho de Didi foi o primeiro que encontrei com profundidade filosófica”, declara Morgan. “Ele é único porque sua sensibilidade consegue transformar toda sua sabedoria numa linguagem acessível, mas sem torná-la simplista”, conclui.

Afirmando ser impossível sintetizar o que representa o trabalho do Mestre Didi, a historiadora Vanda Machado acredita que o líder é o grande pai da família afro-brasileira. “Sua postura patriarcal tem muito também de liderança política. Seu nome será sempre uma referência obrigatória dentro da cultura afro-religiosa em todo o mundo”, afirma. Já Arlete Soares, editora-chefe da Corrupio, destacou o esforço conjunto para que a homenagem fosse concretizada. “Sem a união daqueles que reconhecem o trabalho de um artista desse porte, a publicação teria sido inviável, principalmente sem o apoio do Fundo de Cultura”, concluiu.

Tradição e Arte
Único filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, Mestre Didi é o mais antigo descendente brasileiro do reino africano de ketu. Autor de uma série de livros, o artista já expôs suas esculturas e instalações nas mais importantes bienais do Brasil e do exterior. Seus trabalhos, feitos de materiais como búzios africanos, contas vegetais, palha da costa e couro, recriam as simbologias e emblemas do culto nagô. A antropóloga argentina, Juanita Elbein dos Santos, esposa do Mestre Didi há quase 40 anos, além de sua grande incentivadora, foi a organizadora do livro. Ela acredita que o mais importante para o marido é a gratidão das pessoas. “Ter o trabalho reconhecido e valorizado é o sonho de todo artista”, afirmou.

Foto: Divulgação

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Bahia Afro Film Festival

Com quase um ano de antecedência, Festival de Cinema Afro é lançado em Salvador

O Bahia Afro Film Festival, Festival Internacional de Cinema Afro, foi lançado na noite desta segunda-feira (10) no Palácio da Aclamação em Salvador, e contou com a presença de cineastas, atores e alunos de uma oficina promovida pela Casa de Cinema da Bahia. Programado para os dias 18 a 27 de novembro de 2008, a antecedência de quase um ano visa buscar patrocinadores e parcerias que coloquem em prática a série de atividades previstas.

A coordenadora executiva do evento, Ruybella Carteado, afirmou que um dos objetivos do projeto é movimentar o panorama da produção de filmes e vídeos na Bahia com enfoque central na população afrodescendente. “Tive essa idéia quando retornei de Nova Iorque. Queríamos agitar o cenário do cinema com um produto bem articulado, além de estimular o turismo étnico”, declarou.

O festival, que teve como mestre de cerimônias a atriz Zezé Motta, apresentou ainda um dos destaques da sua programação. Vinte e cinco jovens alunos de comunidades carentes receberam diplomas e apresentaram vídeos produzidos por eles na oficina “O Negro e o Cinema”, ministrada pela Casa de Cinema da Bahia. Durante vinte dias, eles aprenderam técnicas cinematográficas, como roteiro, direção e edição de curtas-metragens. Rafael Manga, 19, era um dos mais empolgados ao receber seu certificado. “Isso representa para mim uma conquista pessoal e o início de uma carreira que sonho desde criança”, afirmou.

Homenagens
Além da exibição dos vídeos produzidos pelos alunos da Casa de Cinema, diversas pessoas receberam o troféu Zumbi dos Palmares, pelo reconhecimento ao trabalho dedicado à sétima arte. Entre os homenageados estavam Guido Araújo, organizador do Festival de Cinema da Bahia, e Walson Nascimento, um operador de cinema aposentado que se dedica a exibir gratuitamente para os moradores do bairro de São Cristóvão. Após 35 anos de trabalho projetando filmes em cinemas do centro da cidade, Walson comprou o próprio projetor e montou uma sala de vídeo no fundo de sua casa. “Temos espaço para cinqüenta pessoas que quiserem assistir filmes de graça todas as quartas e sábados”, declarou.

Para acessar o site do Bahia Afro Film Festival, clique aqui

Fotos: Tom Correia