Pela primeira vez na sua história, a eleição da mulher-símbolo do Ilê Aiyê acontece na sede do bloco afro mais importante da Bahia
A Ladeira do Curuzu estará agitada a partir das 21 horas deste sábado (12), com a edição da 29ª Noite da Beleza Negra, promovida pelo Ilê Aiyê, primeiro bloco afro a ser fundado em Salvador. Será a primeira vez que a Senzala do Barro Preto, sede da entidade, abrigará o evento. O concurso, criado em 1979, visava valorizar a mulher negra e ir de encontro aos estereótipos que depreciavam as afrodescendentes devido aos seus padrões estéticos. As 15 concorrentes que participam da grande final de amanhã, têm idades de 15 a 26 anos e foram pré-selecionadas entre 70 inscritas. “Além dos atributos físicos, a nova rainha precisa ser inteligente e estar antenada com a questão racial”, explica Jaci Trindade, coordenadora das candidatas.
Moradora da Fazenda Coutos, Quênia Borges, 25, é graduada em Educação Física pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Bem informada sobre a atual crise no país que deu origem ao seu nome, ela afirma que sua família é o seu grande incentivo. “Minha mãe sempre me apoiou, principalmente porque ela queria ter participado do concurso quando era mais jovem”, declara. Ela diz ainda que a atividade política e movimentos organizados pelo Ilê também a estimularam a disputar o título. Para a estudante secundária Luanda Matos, 18, ser uma das finalistas tem sido importante para sua formação. “É um privilégio participar de um concurso que nos desperta a consciência em relação às nossas origens”, declara.
Formada em dança pela Fundação Cultural, Fernanda Ramos, 20, ainda detém o título de Deusa do Ébano. Eleita em 2007, ela diz que apenas a beleza não é o suficiente para se tornar rainha. “Uma mulher negra, além de bonita, tem que ser consciente do seu papel. Ela tem que contribuir para que mudanças sejam feitas”, expõe. O título proporcionou à Fernanda viagens de trabalho pelo Brasil e pelo exterior, onde manteve contato com outras culturas. No ano passado, esteve na Itália e, no Carnaval de 2008, ela vai viajar para o Equador junto com um grupo dançarinos do Ilê.
Educação é fundamental
Para Arany Santana, diretora da Comissão Organizadora do evento desde 1986, as candidatas foram assumindo uma postura mais engajada de modo gradativo. Aos poucos as meninas perceberam que para chegar à condição de “deusas”, a educação era um passaporte essencial, o que elevou o nível da disputa “Muitas das antigas candidatas se tornaram universitárias ou pequenas empresárias, além de se tornarem muito mais esclarecidas”, revela. Ainda segundo a diretora, a trajetória do bloco no amplo combate à discriminação está totalmente inserida na Noite da Beleza Negra. “Esse concurso transcende a questão da beleza física. Além de ser uma ação totalmente política, ele premia a beleza de toda uma cultura”, concluiu.
Foto: Site do Ilê Aiyê
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