terça-feira, 26 de junho de 2007
Cinema e Antropologia: instrumentos de denúncia social
Em palestra no CEAO, antropólogo francês e estudantes universitários debatem sobre “Ciência e Antropologia”
Estudantes universitários, cinéfilos, professores e antropólogos compareceram, na manhã de ontem (25), à palestra do professor François Laplantine sobre “Cinema e Antropologia”, no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO). Doutor em Filosofia e Antropologia pelas Universidades de Nanterre e Sorbonne, respectivamente, Laplantine veio a Salvador a convite do CEAO para participar do I Seminário Lyon-Salvador, sobre universidade e diversidade cultural.
Durante o evento foram exibidos três curtas-metragens. Dois deles de autoria do documentarista armênio Pelechian, considerado uma voz ativa contra o genocídio praticado no seu país. Seus filmes “Fim” e “Vida” são ao mesmo tempo uma forma de denúncia social e uma celebração à existência.
Laplatine explicou a importância da antropologia na relação com o cinema. Segundo ele, o cinema possui a faculdade de mostrar com mais exatidão as interações entre os atores sociais, algo que as produções acadêmicas se ressentem. “A antropologia também tem sua função crítica e não pode deixar de ser engajada. Além disso o negro tem marcado presença no cinema de uma maneira muito intensa”, afirmou o antropólogo.
O Negro e o Cinema
O mestrando em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia – Ufba, Carlos Ailton, não vê no atual panorama brasileiro e mundial um engajamento em torno de um resgate sério da temática negra por parte do cinema. “O negro ainda é considerado um objeto exótico, já que a estética fílmica que prevalece ainda é eurocêntrica”, diz. Segundo Ailton, apenas cineastas como o norte-americano Spike Lee, desconstroem essa visão rançosa do negro no cinema.
No caso da TV a abordagem do negro resvala no mesmo lugar-comum de antes. “A TV se esforça tanto para dar um lugar de destaque ao negro que termina resvalando na caricatura, no folclore”, afirmou o mestrando. Ele citou o exemplo do ator baiano Lázaro Ramos, que recentemente foi protagonista de uma novela da Globo. “Lázaro está sendo transformado num ícone da visão folclorizada do negro, basta analisar seu último personagem, Foguinho”.
Sobre o filme “Ó pai ó” dirigido por Monique Gardenberg e baseado numa peça encenada pelo Bando de Teatro Olodum, Ailton declarou que não se trata de uma obra de ficção, já que não se vê no filme a construção de uma narrativa. “Tudo ali foi feito em cima de bricolagens e clipagens, mostrando o afrodescendente como dionisíaco e irresponsável, reforçando o estereótipo do negro. Na verdade, ainda existe uma relação de ‘coisificação’ na abordagem do negro pelo cinema e pela tv”, declara.
Foto: Tom Correia
sexta-feira, 15 de junho de 2007
Música alternativa promove transformações sociais na Bahia
DJ’s de Salvador falam sobre mercado, inclusão social e suas experiências pessoais para jovens da periferia.
Música eletrônica, transformação social e troca de experiências. Com esses temas o Encontro de DJ’s, que aconteceu neste sábado (14) no Baobá Café Social, trouxe os DJ’s Bandido, Pablo Florentino e André Urso, que falaram sobre suas carreiras, o panorama atual para os artistas e as interferências realizadas na periferia de Salvador através do hip hop, house e rap. Na platéia, jovens integrantes de projetos sociais, que tem a produção musical como base, participando com questionamentos e reflexões sobre o que é fazer uma música minoritária e de contestação, na capital baiana.
Ponto principal no discurso dos três palestrantes, foi unânime acentuar a dificuldade encontrada no mercado de trabalho. Os entraves estão presentes desde a desvalorização do profissional, passando pelos espaços restritos, falta de apoio e o alto investimento a ser dado na carreira (equipamento caro e discos de vinil chegam a custar R$ 80 cada, quando são usados numa noite, em média 50 discos). “Já me ofereceram R$ 200 para tocar durante seis horas no carnaval, isso é exploração”, diz Bandido. Ele, que passou quatro anos pesquisando antes de se apresentar pela primeira vez em público, aconselha a pesquisa para cada um conheça o seu estilo musical. “Estudem para conhecer a sua história, pois ela é seu estilo”, diz o morador do Nordeste de Amaralina, que já ministrou diversas oficinas em comunidades carentes.
André Urso, atuante no cenário da cidade há sete anos, quando começou a fazer parte da Pragatecno, enfatizou o aspecto histórico da produção musical. Urso acredita que seu trabalho é inclusivo a partir do momento em que permite a liberdade de expressão e pensamento. “A música sempre foi feita para incluir. Um instante de prazer que ela produz pode mudar os valores de quem a escuta”, diz. De mesma opinião, Pablo Florentino, o DJ Netuno, pesquisador do tema há cinco anos, morou no Rio e em São Paulo onde, além de notar que o tratamento dado aos DJ’s é diferenciado, entendeu a importância da música de raiz. Para ele é necessário fazer um resgate da música brasileira. “Ela pode nos influenciar como mensagem e como meio de informação”, afirma.
Entretanto, apesar do cenário desfavorável, novos grupos continuam a surgir. O Mini Stereo Público, composto de dez integrantes, nasceu há dois anos com a proposta de realizar interferências, em parceria com grafiteiros, em bairros como Saramandaia, Massaranduba e Boca do Rio, mesmo sem contar com nenhum tipo de incentivo público ou privado. Segundo um dos integrantes, Dj Dudu, “ser DJ é ser um guerrilheiro da música”, declara.
Inclusão Social e transformação
Moradores do Nordeste de Amaralina, Sueli Santos, Marcos Ramos e Joni Moreira, do grupo Na Linha do Caos, realizaram, em 2005, o Festival Ambulante de Hip Hop. O evento reuniu cerca de duas mil pessoas, engajadas com as letras das canções de protesto. Segundo eles, o hip hop transforma as pessoas através da sua linguagem, desde que elas estejam prontas para aceitar a transformação.
Fotos: Tom Correia
Música eletrônica, transformação social e troca de experiências. Com esses temas o Encontro de DJ’s, que aconteceu neste sábado (14) no Baobá Café Social, trouxe os DJ’s Bandido, Pablo Florentino e André Urso, que falaram sobre suas carreiras, o panorama atual para os artistas e as interferências realizadas na periferia de Salvador através do hip hop, house e rap. Na platéia, jovens integrantes de projetos sociais, que tem a produção musical como base, participando com questionamentos e reflexões sobre o que é fazer uma música minoritária e de contestação, na capital baiana.
Ponto principal no discurso dos três palestrantes, foi unânime acentuar a dificuldade encontrada no mercado de trabalho. Os entraves estão presentes desde a desvalorização do profissional, passando pelos espaços restritos, falta de apoio e o alto investimento a ser dado na carreira (equipamento caro e discos de vinil chegam a custar R$ 80 cada, quando são usados numa noite, em média 50 discos). “Já me ofereceram R$ 200 para tocar durante seis horas no carnaval, isso é exploração”, diz Bandido. Ele, que passou quatro anos pesquisando antes de se apresentar pela primeira vez em público, aconselha a pesquisa para cada um conheça o seu estilo musical. “Estudem para conhecer a sua história, pois ela é seu estilo”, diz o morador do Nordeste de Amaralina, que já ministrou diversas oficinas em comunidades carentes.
André Urso, atuante no cenário da cidade há sete anos, quando começou a fazer parte da Pragatecno, enfatizou o aspecto histórico da produção musical. Urso acredita que seu trabalho é inclusivo a partir do momento em que permite a liberdade de expressão e pensamento. “A música sempre foi feita para incluir. Um instante de prazer que ela produz pode mudar os valores de quem a escuta”, diz. De mesma opinião, Pablo Florentino, o DJ Netuno, pesquisador do tema há cinco anos, morou no Rio e em São Paulo onde, além de notar que o tratamento dado aos DJ’s é diferenciado, entendeu a importância da música de raiz. Para ele é necessário fazer um resgate da música brasileira. “Ela pode nos influenciar como mensagem e como meio de informação”, afirma.
Entretanto, apesar do cenário desfavorável, novos grupos continuam a surgir. O Mini Stereo Público, composto de dez integrantes, nasceu há dois anos com a proposta de realizar interferências, em parceria com grafiteiros, em bairros como Saramandaia, Massaranduba e Boca do Rio, mesmo sem contar com nenhum tipo de incentivo público ou privado. Segundo um dos integrantes, Dj Dudu, “ser DJ é ser um guerrilheiro da música”, declara.
Inclusão Social e transformação
Moradores do Nordeste de Amaralina, Sueli Santos, Marcos Ramos e Joni Moreira, do grupo Na Linha do Caos, realizaram, em 2005, o Festival Ambulante de Hip Hop. O evento reuniu cerca de duas mil pessoas, engajadas com as letras das canções de protesto. Segundo eles, o hip hop transforma as pessoas através da sua linguagem, desde que elas estejam prontas para aceitar a transformação.
Fotos: Tom Correia
sábado, 9 de junho de 2007
Selo da Diversidade
Em busca de parcerias, governo municipal visa identificar empresas que promovam inclusão de afrodescendentes no mercado de trabalho
Criado com o objetivo de combater as desigualdades raciais no mercado de trabalho, o Selo da Diversidade, iniciativa inédita no país, faz parte de um amplo programa da Prefeitura de Salvador que visa combater o racismo institucional. A proposta é que empresas recebam o selo e sejam identificadas como parceiras na luta contra a discriminação. A coordenação do programa é de responsabilidade da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), órgão que articula as políticas públicas de promoção da igualdade racial em Salvador, junto a instituições governamentais e a iniciativa privada.
Debatido publicamente em maio passado na palestra “Inserção de jovens afrodescendentes no mercado de trabalho”, promovida pela Semur, o Instituto Iris e o Senac, o Selo foi apresentado a potenciais futuros parceiros do programa, como os shoppings Barra, Center Lapa, Iguatemi e Piedade. “Estamos ainda em fase de sensibilização, as empresas ainda resistem um pouco a se comprometer com a nossa proposta”, afirma Antônia Garcia, subsecretária da Semur. Ela disse ainda que é necessária uma atenção especial às formas sutis de discriminação. “Não podemos mais admitir que o bairro do candidato seja utilizado como critério de seleção das empresas”, concluiu.
Uma outra ação de inclusão social promovida pela Semur, Instituto Iris e o Senac, foi o curso de consultoria de vendas para 60 alunos afrodescendentes, divididos em duas turmas. A assistente do Centro de Educação e Tecnologia do Senac, Silvânia Veloso, afirma que a evasão e reprovação foram mínimas. “O Senac também tem essa preocupação com a responsabilidade social e ao final de cada curso, disponibilizamos na nossa página virtual os nomes e contatos dos alunos qualificados.”
Moradora do bairro de Sete de Abril, Carla Cristina, 26, foi uma das integrantes da capacitação. “O curso valeu a pena principalmente devido à parte prática. Além do conteúdo teórico, as visitas técnicas e os contatos com profissionais foram importantes”. Há dois meses trabalhando na Companhia de Seguros Mongeral, como consultora de benefícios, Cristina teve seu currículo enviado à empresa pelo Senac, logo após a conclusão do curso.
Criado com o objetivo de combater as desigualdades raciais no mercado de trabalho, o Selo da Diversidade, iniciativa inédita no país, faz parte de um amplo programa da Prefeitura de Salvador que visa combater o racismo institucional. A proposta é que empresas recebam o selo e sejam identificadas como parceiras na luta contra a discriminação. A coordenação do programa é de responsabilidade da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), órgão que articula as políticas públicas de promoção da igualdade racial em Salvador, junto a instituições governamentais e a iniciativa privada.
Debatido publicamente em maio passado na palestra “Inserção de jovens afrodescendentes no mercado de trabalho”, promovida pela Semur, o Instituto Iris e o Senac, o Selo foi apresentado a potenciais futuros parceiros do programa, como os shoppings Barra, Center Lapa, Iguatemi e Piedade. “Estamos ainda em fase de sensibilização, as empresas ainda resistem um pouco a se comprometer com a nossa proposta”, afirma Antônia Garcia, subsecretária da Semur. Ela disse ainda que é necessária uma atenção especial às formas sutis de discriminação. “Não podemos mais admitir que o bairro do candidato seja utilizado como critério de seleção das empresas”, concluiu.
Uma outra ação de inclusão social promovida pela Semur, Instituto Iris e o Senac, foi o curso de consultoria de vendas para 60 alunos afrodescendentes, divididos em duas turmas. A assistente do Centro de Educação e Tecnologia do Senac, Silvânia Veloso, afirma que a evasão e reprovação foram mínimas. “O Senac também tem essa preocupação com a responsabilidade social e ao final de cada curso, disponibilizamos na nossa página virtual os nomes e contatos dos alunos qualificados.”
Moradora do bairro de Sete de Abril, Carla Cristina, 26, foi uma das integrantes da capacitação. “O curso valeu a pena principalmente devido à parte prática. Além do conteúdo teórico, as visitas técnicas e os contatos com profissionais foram importantes”. Há dois meses trabalhando na Companhia de Seguros Mongeral, como consultora de benefícios, Cristina teve seu currículo enviado à empresa pelo Senac, logo após a conclusão do curso.
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