terça-feira, 25 de setembro de 2007

Escola desperta valores afrodescendentes nos alunos

Centro de Educação Infantil Municipal Cid Passos, no subúrbio ferroviário de Salvador, desenvolve arte-educação e conscientiza crianças sobre diversidade

Uma escola pública municipal onde é possível aprender a tocar violino, ter aulas de dança e que funciona como um espaço aberto para atividades da comunidade. Essa é a proposta do Centro de Educação Infantil Municipal Cid Passos, localizado no bairro de Coutos, subúrbio de Salvador, onde professores comprometidos com o projeto pedagógico da unidade educam 440 crianças, entre 3 e 12 anos, dos níveis infantil e fundamental. Além da ênfase ao lúdico, com ensinamentos que envolvem brincadeiras e jogos educacionais, a escola tem na sua metodologia a preocupação com os valores referentes aos aspectos da cultura de origens africanas.

Mesmo antes da aplicação da Lei 10.639/03 (que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura afro-brasileira nas escolas públicas e particulares) as questões étnicas já eram tratadas nas salas de aula através da música, das artes plásticas e nas aulas de teatro. É o que afirma Patrícia Barral, diretora geral da escola. “No ano passado montamos a peça 'Luana e a semente de Zumbi', que traz uma série de reflexões sobre a nossa etnia”, completa.

A busca da identidade e valorização da cultura afro-brasileira é tarefa importante para a escola. Um dos métodos para essa busca é o uso de espelhos em todas as salas de aula, utilizados para a auto-identificação dos alunos, formados na sua imensa maioria por negros e afrodescendentes. “Percebemos que não existe o preconceito entre as crianças, apenas uma dificuldade em identificar suas heranças”, declarou a educadora Cristiane Matos.


Os alunos de educação infantil ficam na instituição em regime de tempo integral, sendo um motivo de tranqüilidade para os pais que trabalham fora. Zenilda Oliveira tem dois filhos na Cid Passos. Matheus, de 12 anos e Talita, de 8, e para ela a escola é peça fundamental para desenvolvimento de seus filhos. “Eles desenvolveram mais a leitura e participam dos projetos da escola. Matheus era muito nervoso, mas depois que foi encaminhado pela escola para acompanhamento de um psicólogo, ele melhorou bastante”, disse.

Comunidade atuante e parcerias
Inaugurado em 2003 e ocupando dois prédios cedidos à Prefeitura de Salvador, em regime de comodato pelo Serviço Social da Indústria na Bahia (Sesi), o Centro de Educação conta com uma verba anual de R$2.700 e tem uma relação estreita com a comunidade. Há um “Conselho Escolar”, eleito por meio de votação direta, composto por representantes de pais, professores e funcionários, que se reúne uma vez ao mês para sugerir medidas e tomar decisões. “Tenho certeza de que a nossa escola é bem sucedida porque a comunidade tem uma participação efetiva na escola”, afirma Barral.

Há quatro anos, uma parceria com a Escola Nova Nossa Infância, na Pituba, criou um intercâmbio com o objetivo de quebrar as barreiras das diferenças étnicas, sociais e culturais entre os alunos. A integração e a convivência com essas diferenças levaram os alunos da escola privada a tomarem a iniciativa de dividir entre eles o valor das taxas para que fossem tiradas as carteiras de identidade dos alunos da Cid Passos.

Ano passado, a escola participou prêmio “Minha Escola é Tudo de Bom”, um projeto de conservação escolar da Secretaria Municipal de Educação. Apesar de não ter sido classificada, a escola foi inscrita para concorrer ao “Prêmio Sesi Qualidade da Educação”, que contempla as unidades de ensino fundamental que se destacam no Brasil. Mesmo não sendo contemplados, para a diretora Patrícia Barral, a iniciativa já é vencedora.

Fotos: Tom Correia

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