sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Blocos Afros: ação social e militância no carnaval da Bahia

Militantes históricos do movimento negro na Bahia divulgam realizações de inclusão social

Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado nesta quinta-feira (29) no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.

Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.

Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.

Revolução Olodum
“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.

Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.

Foto: Tom Correia