Missas festivas com toques de Candomblé, samba-de-roda e feijoada homenageiam na Bahia o primeiro negro a ser santificado pela Igreja Católica
O ciclo de festas populares e religiosas que se inicia todo mês de dezembro em Salvador, guarda uma particularidade nos meados de janeiro. Desde a última quinta-feira (10), na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, estão sendo realizadas missas festivas em homenagem a Santo Antônio de Categeró, primeiro negro santificado pela religião católica. Até domingo passado (13), uma série de solenidades marcada pelo sincretismo, começou com um tríduo rezado pelos padres Gabriel e Aderbal.
No último dia dedicado à parte religiosa, cânticos negros entoados ao som de atabaques emocionaram os fiéis e adeptos que lotaram a igreja. Ordenado em 1995 e pároco da Rosário dos Pretos desde setembro do ano passado, padre Gabriel destaca a identificação da comunidade com o santo. "Pela raridade do Vaticano reconhecer a santidade dos afrodescendentes, ter um santo negro numa cidade como a nossa, é importantíssimo", declara. Para Vilma Sacramento, sua devoção a Categeró começou há 16 anos. Quando passava por um momento de dificuldade, ela entrou na igreja por acaso, quando uma missa em louvor a “Antônio Negro” estava sendo realizada. “Nunca vou esquecer aquele dia em que entrei aqui e ele atendeu aos meus pedidos”, relata.
Nesta terça-feira (15) a partir do meio-dia, uma feijoada foi oferecida gratuitamente à comunidade, fechando o ciclo de homenagens ao santo. Houve ainda a apresentação de grupos de samba-de-roda e de sambadeiras do grupo Os Vendavais. A expectativa da Irmandande, antes da festa, era de que cerca de mil pessoas aparecessem para comer o feijão servido em porcelana nagô. O detalhe é que a iguaria deve ser comida de mão, da mesma maneira feita pelos antigos escravos e os pratos de barro deverão ser lavados para que a próxima pessoa possa usá-lo. Há nove anos pertencente à Irmandade dos Homens Pretos, Francisco Albuquerque, mais conhecido como “Bubu”, revela uma crença difundida pelos devotos de Categeró. “Quem comer a feijoada, vive mais setenta anos”, garante.
Biografia
Ex-escravo e ex-muçulmano nascido por volta de 1490 na atual Líbia, norte da África, Antônio foi vendido para um camponês siciliano, que lhe transmitiu novos valores religiosos. Na Itália, converteu-se ao catolicismo tornando-se membro da ordem franciscana, sendo muito procurado pelas pessoas que o consideravam um homem de retidão e serenidade. Falecido na cidade italiana de Pádua em 1549, seus primeiros devotos no Brasil começaram a surgir por volta do séc. XVII. Além de ser venerado na Bahia, o santo também recebe homenagens em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Para saber mais sobre a vida de Santo Antônio de Categeró, clique aqui
Fotos: Tom Correia
Colaboração: George Sami
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Escolha da Deusa do Ébano reafirma valores da mulher afrodescendente
Pela primeira vez na sua história, a eleição da mulher-símbolo do Ilê Aiyê acontece na sede do bloco afro mais importante da Bahia
A Ladeira do Curuzu estará agitada a partir das 21 horas deste sábado (12), com a edição da 29ª Noite da Beleza Negra, promovida pelo Ilê Aiyê, primeiro bloco afro a ser fundado em Salvador. Será a primeira vez que a Senzala do Barro Preto, sede da entidade, abrigará o evento. O concurso, criado em 1979, visava valorizar a mulher negra e ir de encontro aos estereótipos que depreciavam as afrodescendentes devido aos seus padrões estéticos. As 15 concorrentes que participam da grande final de amanhã, têm idades de 15 a 26 anos e foram pré-selecionadas entre 70 inscritas. “Além dos atributos físicos, a nova rainha precisa ser inteligente e estar antenada com a questão racial”, explica Jaci Trindade, coordenadora das candidatas.
Moradora da Fazenda Coutos, Quênia Borges, 25, é graduada em Educação Física pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Bem informada sobre a atual crise no país que deu origem ao seu nome, ela afirma que sua família é o seu grande incentivo. “Minha mãe sempre me apoiou, principalmente porque ela queria ter participado do concurso quando era mais jovem”, declara. Ela diz ainda que a atividade política e movimentos organizados pelo Ilê também a estimularam a disputar o título. Para a estudante secundária Luanda Matos, 18, ser uma das finalistas tem sido importante para sua formação. “É um privilégio participar de um concurso que nos desperta a consciência em relação às nossas origens”, declara.
Formada em dança pela Fundação Cultural, Fernanda Ramos, 20, ainda detém o título de Deusa do Ébano. Eleita em 2007, ela diz que apenas a beleza não é o suficiente para se tornar rainha. “Uma mulher negra, além de bonita, tem que ser consciente do seu papel. Ela tem que contribuir para que mudanças sejam feitas”, expõe. O título proporcionou à Fernanda viagens de trabalho pelo Brasil e pelo exterior, onde manteve contato com outras culturas. No ano passado, esteve na Itália e, no Carnaval de 2008, ela vai viajar para o Equador junto com um grupo dançarinos do Ilê.
Educação é fundamental
Para Arany Santana, diretora da Comissão Organizadora do evento desde 1986, as candidatas foram assumindo uma postura mais engajada de modo gradativo. Aos poucos as meninas perceberam que para chegar à condição de “deusas”, a educação era um passaporte essencial, o que elevou o nível da disputa “Muitas das antigas candidatas se tornaram universitárias ou pequenas empresárias, além de se tornarem muito mais esclarecidas”, revela. Ainda segundo a diretora, a trajetória do bloco no amplo combate à discriminação está totalmente inserida na Noite da Beleza Negra. “Esse concurso transcende a questão da beleza física. Além de ser uma ação totalmente política, ele premia a beleza de toda uma cultura”, concluiu.
Foto: Site do Ilê Aiyê
A Ladeira do Curuzu estará agitada a partir das 21 horas deste sábado (12), com a edição da 29ª Noite da Beleza Negra, promovida pelo Ilê Aiyê, primeiro bloco afro a ser fundado em Salvador. Será a primeira vez que a Senzala do Barro Preto, sede da entidade, abrigará o evento. O concurso, criado em 1979, visava valorizar a mulher negra e ir de encontro aos estereótipos que depreciavam as afrodescendentes devido aos seus padrões estéticos. As 15 concorrentes que participam da grande final de amanhã, têm idades de 15 a 26 anos e foram pré-selecionadas entre 70 inscritas. “Além dos atributos físicos, a nova rainha precisa ser inteligente e estar antenada com a questão racial”, explica Jaci Trindade, coordenadora das candidatas.
Moradora da Fazenda Coutos, Quênia Borges, 25, é graduada em Educação Física pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Bem informada sobre a atual crise no país que deu origem ao seu nome, ela afirma que sua família é o seu grande incentivo. “Minha mãe sempre me apoiou, principalmente porque ela queria ter participado do concurso quando era mais jovem”, declara. Ela diz ainda que a atividade política e movimentos organizados pelo Ilê também a estimularam a disputar o título. Para a estudante secundária Luanda Matos, 18, ser uma das finalistas tem sido importante para sua formação. “É um privilégio participar de um concurso que nos desperta a consciência em relação às nossas origens”, declara.
Formada em dança pela Fundação Cultural, Fernanda Ramos, 20, ainda detém o título de Deusa do Ébano. Eleita em 2007, ela diz que apenas a beleza não é o suficiente para se tornar rainha. “Uma mulher negra, além de bonita, tem que ser consciente do seu papel. Ela tem que contribuir para que mudanças sejam feitas”, expõe. O título proporcionou à Fernanda viagens de trabalho pelo Brasil e pelo exterior, onde manteve contato com outras culturas. No ano passado, esteve na Itália e, no Carnaval de 2008, ela vai viajar para o Equador junto com um grupo dançarinos do Ilê.
Educação é fundamental
Para Arany Santana, diretora da Comissão Organizadora do evento desde 1986, as candidatas foram assumindo uma postura mais engajada de modo gradativo. Aos poucos as meninas perceberam que para chegar à condição de “deusas”, a educação era um passaporte essencial, o que elevou o nível da disputa “Muitas das antigas candidatas se tornaram universitárias ou pequenas empresárias, além de se tornarem muito mais esclarecidas”, revela. Ainda segundo a diretora, a trajetória do bloco no amplo combate à discriminação está totalmente inserida na Noite da Beleza Negra. “Esse concurso transcende a questão da beleza física. Além de ser uma ação totalmente política, ele premia a beleza de toda uma cultura”, concluiu.
Foto: Site do Ilê Aiyê
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Projeto fotográfico se transforma em ONG com ênfase na inclusão social
Há um ano, exposição de Sérgio Guerra nas ruas de Salvador provocava reações em todos os segmentos da sociedade
Em janeiro de 2007 as ruas e avenidas de Salvador foram tomadas por uma exposição fotográfica até então inédita: 1500 imagens mostravam o povo baiano ressaltando suas origens africanas e levantando discussões em torno da questão social. O projeto Salvador Negroamor (SNA), de autoria do fotógrafo e publicitário Sérgio Guerra, além da proposta de intervir no cenário da cidade através de painéis e molduras com fotos de negros e negras, tinha também o objetivo de promover a auto-estima na população afrodescendente.
O roteiro da exposição abrangia seis grandes eixos compostos por avenidas e bairros estratégicos de Salvador, tornando visíveis uma realidade relegada a segundo plano pela mídia tradicional. Restritas aos ciclos de festas populares e ao Carnaval, uma das grandes provocações do projeto era fazer com que o baiano comum do dia-a-dia se reconhecesse nas fotografias. A repercussão da SNA atingiu o nível da polêmica, já que as fotografias expostas abordavam, além dos aspectos estéticos, a histórica desigualdade social, a reparação e a exclusão educacional. Segundo Guerra, “a exposição foi só um começo das ações que estão sendo realizadas, sempre com esse mesmo propósito”, afirma.
Entretanto, acima das críticas ou dos elogios, o mais relevante foram os desdobramentos que aconteceram após o encerramento da exposição, que durou cerca de 40 dias. Em abril do ano passado, por exemplo, uma campanha promovida pelo Portal Salvador Negroamor buscou intermediar a relação entre mão-de-obra e empresas, criando um banco de currículos voltados para os afrodescendentes. Na página virtual são veiculadas notícias de Salvador e da África, além de ser disponibilizado um conteúdo exclusivo destinado à cultura negra.
Projetos Educacionais
Além do Portal SNA, a exposição gerou também uma intervenção na Feira de São Joaquim, com a criação em 2007 de uma escola voltada para o reforço escolar para crianças e adolescentes, filhos dos feirantes e para alfabetização de adultos. Acompanhados por uma pedagoga, e em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, os alunos recebem orientações sobre cidadania, valores étnicos e aspectos da história e cultura africanas. Além disso, a associação está implementando o projeto “Capoeira nos Terreiros”, que , como diz o nome, pretende ministrar aulas de capoeira em terreiros de Salvador, em parceria com o núcleo CTE Capoeiragem, do contra-mestre Balão.
Para assistir ao documentário comemorativo da exposição SNA, clique aqui
Foto: Sérgio Guerra
Matéria editada por Thaiane Machado
Em janeiro de 2007 as ruas e avenidas de Salvador foram tomadas por uma exposição fotográfica até então inédita: 1500 imagens mostravam o povo baiano ressaltando suas origens africanas e levantando discussões em torno da questão social. O projeto Salvador Negroamor (SNA), de autoria do fotógrafo e publicitário Sérgio Guerra, além da proposta de intervir no cenário da cidade através de painéis e molduras com fotos de negros e negras, tinha também o objetivo de promover a auto-estima na população afrodescendente.
O roteiro da exposição abrangia seis grandes eixos compostos por avenidas e bairros estratégicos de Salvador, tornando visíveis uma realidade relegada a segundo plano pela mídia tradicional. Restritas aos ciclos de festas populares e ao Carnaval, uma das grandes provocações do projeto era fazer com que o baiano comum do dia-a-dia se reconhecesse nas fotografias. A repercussão da SNA atingiu o nível da polêmica, já que as fotografias expostas abordavam, além dos aspectos estéticos, a histórica desigualdade social, a reparação e a exclusão educacional. Segundo Guerra, “a exposição foi só um começo das ações que estão sendo realizadas, sempre com esse mesmo propósito”, afirma.
Entretanto, acima das críticas ou dos elogios, o mais relevante foram os desdobramentos que aconteceram após o encerramento da exposição, que durou cerca de 40 dias. Em abril do ano passado, por exemplo, uma campanha promovida pelo Portal Salvador Negroamor buscou intermediar a relação entre mão-de-obra e empresas, criando um banco de currículos voltados para os afrodescendentes. Na página virtual são veiculadas notícias de Salvador e da África, além de ser disponibilizado um conteúdo exclusivo destinado à cultura negra.
Projetos Educacionais
Além do Portal SNA, a exposição gerou também uma intervenção na Feira de São Joaquim, com a criação em 2007 de uma escola voltada para o reforço escolar para crianças e adolescentes, filhos dos feirantes e para alfabetização de adultos. Acompanhados por uma pedagoga, e em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, os alunos recebem orientações sobre cidadania, valores étnicos e aspectos da história e cultura africanas. Além disso, a associação está implementando o projeto “Capoeira nos Terreiros”, que , como diz o nome, pretende ministrar aulas de capoeira em terreiros de Salvador, em parceria com o núcleo CTE Capoeiragem, do contra-mestre Balão.
Para assistir ao documentário comemorativo da exposição SNA, clique aqui
Foto: Sérgio Guerra
Matéria editada por Thaiane Machado
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Mestre Didi, 90 anos
Lançamento de livro e cd marcam homenagens ao artista plástico e líder religioso
Na última sexta-feira (21) foi lançado, no Palacete das Artes em Salvador, o livro “Mestre Didi, 90 anos: autos coreográficos”, publicação que reúne fotografias, composições alegóricas do Candomblé e um cd com cânticos gravados pelo líder religioso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi. Sem conceder entrevistas desde 1975, quando recebeu o título de Alapini, o mais alto grau da hierarquia da representação nagô, o autor completou nove décadas no início deste mês.
Para marcar a passagem do aniversário do artista plástico, a Sociedade de Estudos de Cultura Negra no Brasil (SECNEB) em parceria com a Editora Corrupio, promoveu noite de autógrafos que contou a presença de artistas, povo de santo e admiradores da vida e obra do autor. Durante o lançamento houve uma performance do coreógrafo norte-americano Clyde Morgan, um dos grandes colaboradores do mestre. “Quando cheguei ao Brasil nos anos 70, o trabalho de Didi foi o primeiro que encontrei com profundidade filosófica”, declara Morgan. “Ele é único porque sua sensibilidade consegue transformar toda sua sabedoria numa linguagem acessível, mas sem torná-la simplista”, conclui.
Afirmando ser impossível sintetizar o que representa o trabalho do Mestre Didi, a historiadora Vanda Machado acredita que o líder é o grande pai da família afro-brasileira. “Sua postura patriarcal tem muito também de liderança política. Seu nome será sempre uma referência obrigatória dentro da cultura afro-religiosa em todo o mundo”, afirma. Já Arlete Soares, editora-chefe da Corrupio, destacou o esforço conjunto para que a homenagem fosse concretizada. “Sem a união daqueles que reconhecem o trabalho de um artista desse porte, a publicação teria sido inviável, principalmente sem o apoio do Fundo de Cultura”, concluiu.
Tradição e Arte
Único filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, Mestre Didi é o mais antigo descendente brasileiro do reino africano de ketu. Autor de uma série de livros, o artista já expôs suas esculturas e instalações nas mais importantes bienais do Brasil e do exterior. Seus trabalhos, feitos de materiais como búzios africanos, contas vegetais, palha da costa e couro, recriam as simbologias e emblemas do culto nagô. A antropóloga argentina, Juanita Elbein dos Santos, esposa do Mestre Didi há quase 40 anos, além de sua grande incentivadora, foi a organizadora do livro. Ela acredita que o mais importante para o marido é a gratidão das pessoas. “Ter o trabalho reconhecido e valorizado é o sonho de todo artista”, afirmou.
Foto: Divulgação
Na última sexta-feira (21) foi lançado, no Palacete das Artes em Salvador, o livro “Mestre Didi, 90 anos: autos coreográficos”, publicação que reúne fotografias, composições alegóricas do Candomblé e um cd com cânticos gravados pelo líder religioso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi. Sem conceder entrevistas desde 1975, quando recebeu o título de Alapini, o mais alto grau da hierarquia da representação nagô, o autor completou nove décadas no início deste mês.
Para marcar a passagem do aniversário do artista plástico, a Sociedade de Estudos de Cultura Negra no Brasil (SECNEB) em parceria com a Editora Corrupio, promoveu noite de autógrafos que contou a presença de artistas, povo de santo e admiradores da vida e obra do autor. Durante o lançamento houve uma performance do coreógrafo norte-americano Clyde Morgan, um dos grandes colaboradores do mestre. “Quando cheguei ao Brasil nos anos 70, o trabalho de Didi foi o primeiro que encontrei com profundidade filosófica”, declara Morgan. “Ele é único porque sua sensibilidade consegue transformar toda sua sabedoria numa linguagem acessível, mas sem torná-la simplista”, conclui.
Afirmando ser impossível sintetizar o que representa o trabalho do Mestre Didi, a historiadora Vanda Machado acredita que o líder é o grande pai da família afro-brasileira. “Sua postura patriarcal tem muito também de liderança política. Seu nome será sempre uma referência obrigatória dentro da cultura afro-religiosa em todo o mundo”, afirma. Já Arlete Soares, editora-chefe da Corrupio, destacou o esforço conjunto para que a homenagem fosse concretizada. “Sem a união daqueles que reconhecem o trabalho de um artista desse porte, a publicação teria sido inviável, principalmente sem o apoio do Fundo de Cultura”, concluiu.
Tradição e Arte
Único filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, Mestre Didi é o mais antigo descendente brasileiro do reino africano de ketu. Autor de uma série de livros, o artista já expôs suas esculturas e instalações nas mais importantes bienais do Brasil e do exterior. Seus trabalhos, feitos de materiais como búzios africanos, contas vegetais, palha da costa e couro, recriam as simbologias e emblemas do culto nagô. A antropóloga argentina, Juanita Elbein dos Santos, esposa do Mestre Didi há quase 40 anos, além de sua grande incentivadora, foi a organizadora do livro. Ela acredita que o mais importante para o marido é a gratidão das pessoas. “Ter o trabalho reconhecido e valorizado é o sonho de todo artista”, afirmou.
Foto: Divulgação
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Bahia Afro Film Festival
Com quase um ano de antecedência, Festival de Cinema Afro é lançado em Salvador
O Bahia Afro Film Festival, Festival Internacional de Cinema Afro, foi lançado na noite desta segunda-feira (10) no Palácio da Aclamação em Salvador, e contou com a presença de cineastas, atores e alunos de uma oficina promovida pela Casa de Cinema da Bahia. Programado para os dias 18 a 27 de novembro de 2008, a antecedência de quase um ano visa buscar patrocinadores e parcerias que coloquem em prática a série de atividades previstas.
A coordenadora executiva do evento, Ruybella Carteado, afirmou que um dos objetivos do projeto é movimentar o panorama da produção de filmes e vídeos na Bahia com enfoque central na população afrodescendente. “Tive essa idéia quando retornei de Nova Iorque. Queríamos agitar o cenário do cinema com um produto bem articulado, além de estimular o turismo étnico”, declarou.
O festival, que teve como mestre de cerimônias a atriz Zezé Motta, apresentou ainda um dos destaques da sua programação. Vinte e cinco jovens alunos de comunidades carentes receberam diplomas e apresentaram vídeos produzidos por eles na oficina “O Negro e o Cinema”, ministrada pela Casa de Cinema da Bahia. Durante vinte dias, eles aprenderam técnicas cinematográficas, como roteiro, direção e edição de curtas-metragens. Rafael Manga, 19, era um dos mais empolgados ao receber seu certificado. “Isso representa para mim uma conquista pessoal e o início de uma carreira que sonho desde criança”, afirmou.
Homenagens
Além da exibição dos vídeos produzidos pelos alunos da Casa de Cinema, diversas pessoas receberam o troféu Zumbi dos Palmares, pelo reconhecimento ao trabalho dedicado à sétima arte. Entre os homenageados estavam Guido Araújo, organizador do Festival de Cinema da Bahia, e Walson Nascimento, um operador de cinema aposentado que se dedica a exibir gratuitamente para os moradores do bairro de São Cristóvão. Após 35 anos de trabalho projetando filmes em cinemas do centro da cidade, Walson comprou o próprio projetor e montou uma sala de vídeo no fundo de sua casa. “Temos espaço para cinqüenta pessoas que quiserem assistir filmes de graça todas as quartas e sábados”, declarou.
Para acessar o site do Bahia Afro Film Festival, clique aqui
Fotos: Tom Correia
O Bahia Afro Film Festival, Festival Internacional de Cinema Afro, foi lançado na noite desta segunda-feira (10) no Palácio da Aclamação em Salvador, e contou com a presença de cineastas, atores e alunos de uma oficina promovida pela Casa de Cinema da Bahia. Programado para os dias 18 a 27 de novembro de 2008, a antecedência de quase um ano visa buscar patrocinadores e parcerias que coloquem em prática a série de atividades previstas.
A coordenadora executiva do evento, Ruybella Carteado, afirmou que um dos objetivos do projeto é movimentar o panorama da produção de filmes e vídeos na Bahia com enfoque central na população afrodescendente. “Tive essa idéia quando retornei de Nova Iorque. Queríamos agitar o cenário do cinema com um produto bem articulado, além de estimular o turismo étnico”, declarou.
O festival, que teve como mestre de cerimônias a atriz Zezé Motta, apresentou ainda um dos destaques da sua programação. Vinte e cinco jovens alunos de comunidades carentes receberam diplomas e apresentaram vídeos produzidos por eles na oficina “O Negro e o Cinema”, ministrada pela Casa de Cinema da Bahia. Durante vinte dias, eles aprenderam técnicas cinematográficas, como roteiro, direção e edição de curtas-metragens. Rafael Manga, 19, era um dos mais empolgados ao receber seu certificado. “Isso representa para mim uma conquista pessoal e o início de uma carreira que sonho desde criança”, afirmou.
Homenagens
Além da exibição dos vídeos produzidos pelos alunos da Casa de Cinema, diversas pessoas receberam o troféu Zumbi dos Palmares, pelo reconhecimento ao trabalho dedicado à sétima arte. Entre os homenageados estavam Guido Araújo, organizador do Festival de Cinema da Bahia, e Walson Nascimento, um operador de cinema aposentado que se dedica a exibir gratuitamente para os moradores do bairro de São Cristóvão. Após 35 anos de trabalho projetando filmes em cinemas do centro da cidade, Walson comprou o próprio projetor e montou uma sala de vídeo no fundo de sua casa. “Temos espaço para cinqüenta pessoas que quiserem assistir filmes de graça todas as quartas e sábados”, declarou.
Para acessar o site do Bahia Afro Film Festival, clique aqui
Fotos: Tom Correia
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Blocos Afros: ação social e militância no carnaval da Bahia
Militantes históricos do movimento negro na Bahia divulgam realizações de inclusão social
Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado nesta quinta-feira (29) no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.
Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.
Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.
Revolução Olodum
“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.
Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.
Foto: Tom Correia
Um encontro entre as principais lideranças dos blocos afros de Salvador foi realizado nesta quinta-feira (29) no Baobá Café Social. O bate-papo intitulado “Somos mais que Carnavais”, teve o objetivo de divulgar para público as intervenções sociais promovidas pelos blocos nas comunidades onde estão sediados. Na mesa, os diretores do Cortejo Afro, Alberto Pitta, do Olodum, João Jorge, e do grupo “Os Negões”, Valmir França, falaram sobre suas trajetórias e sobre os avanços obtidos pelos afrodescendentes após a politização dos blocos de origem negra.
Fundado em 1982, o bloco “Os Negões” foi criado por jovens negros que ansiavam por sair no Carnaval de Salvador. Na sua primeira participação, o grupo contou com 72 componentes e homenageou o músico e compositor Batatinha. De lá para cá, o bloco ganhou dimensões maiores, tornando-se cada vez mais consciente do seu papel na sociedade. “Nos últimos cinco anos estabelecemos uma ligação mais forte com música engajada, que combate o racismo e a discriminação”, afirmou Walmir França, um dos fundadores do grupo.
Já o grupo Cortejo Afro, fundado em 1990 pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu com a proposta modernizadora em termos de som, estética e postura mais crítica. Após se firmar como um dos blocos afro mais importantes de Salvador, o Cortejo voltou-se para a área social, oferecendo cursos gratuitos para jovens e crianças do Conjunto Pirajá I. Dentro do Terreiro Ilê Axé Oyá, de mãe Santinha, 40 alunos aprendem dança, música, percussão e capoeira. “Temos ainda um projeto pronto para ensinar tênis e natação para as crianças, estamos agora em busca de patrocínio”, declarou Pitta.
Revolução Olodum
“O Olodum foi uma revolução dentro da revolução”, assim declarou João Jorge ao falar sobre o surgimento de um dos blocos que mais contribuíram com a conscientização do Carnaval da Bahia. Até 1983 os grupos afro não tinham assumido a própria negritude e nem tinham um toque musical que os identificasse. Somente após as iniciativas de renovação do Olodum, outros blocos passaram a se comportar com mais autenticidade. A composição “Faraó”, de 1987, tornou-se um marco da música baiana e alavancou o sucesso do grupo, mas haviam objetivos mais profundos. “Queríamos transformar o carnaval festivo em ações afirmativas dentro das comunidades negras”, afirmou João Jorge.
Hoje, o Grupo Cultural Olodum oferece cursos de percussão à crianças e, em conseqüência, empregos a centenas de jovens músicos. Além disso, desde 2001 o grupo mantém um convênio com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), que reserva aos seus componentes quatro bolsas de estudos em cursos de graduação. Afirmando ser um “dinossauro da militância”, João Jorge parafraseou Nelson Mandela: “Luto contra qualquer tipo de supremacia, seja ela branca ou negra”.
Foto: Tom Correia
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Página virtual dos Terreiros de Salvador já pode ser acessada
Após oito meses de pesquisa, secretarias municipais lançam site com dados de 1.159 Terreiros de diversas nações
Uma parceria entre a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), de Habitação (Sehab), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir) e a Fundação Palmares, promoveu nesta quarta-feira (28), o lançamento do site do Mapeamento dos Terreiros de Salvador. O evento, transmitido ao vivo pela internet direto da Praça Municipal, encerrou as comemorações do Novembro Negro e contou com a presença de diversos representantes de casas religiosas e autoridades do poder público.
A pesquisa, coordenada pelo historiador Jocélio Teles, durou oito meses e foi realizada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao). O objetivo era fazer uma radiografia das casas religiosas em atividade em Salvador e na Ilha de Maré, levantando dados sócio-ambientais e culturais, além de identificar as nações de cada uma delas. Ainda assim, houve alguma resistência. “Cerca de 30 terreiros se recusaram a participar e isso ainda é um reflexo da perseguição sofrida por eles no passado”, afirmou Teles. No total, foram registrados 1.159 Terreiros, a maioria deles localizados em bairros como Plataforma, Cajazeiras, Paripe, Liberdade e Cosme de Farias.
Para o Pai Raimundo, do Centro Umbandista Paz e Justiça, iniciativas como as do mapeamento de Terreiros é a confirmação de um lugar que sempre pertenceu aos adeptos das religiões de matrizes africanas. “Não estamos pedindo nada, merecemos uma posição de destaque na sociedade e agora estamos nos aliando às novas tecnologias”, declarou. Ele ainda se queixou da falta de união entre o povo de santo. “Hoje esta praça deveria estar lotada”, concluiu.
O subsecretário da Semur, Antônio Cosme, acredita que ações originadas pela Prefeitura representam um avanço sem precedentes na história de Salvador. “O Estado sempre perseguiu o Candomblé. Hoje, esse mesmo Estado promove a reparação disponibilizando meios democráticos de acesso à informação”, disse. Para ele, um site com conteúdo afro-religioso pode despertar o interesse das comunidades pela tecnologia, minimizando a exclusão digital na capital baiana.
Para acessar o site do Mapeamento dos Terreiros, clique aqui
Uma parceria entre a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), de Habitação (Sehab), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir) e a Fundação Palmares, promoveu nesta quarta-feira (28), o lançamento do site do Mapeamento dos Terreiros de Salvador. O evento, transmitido ao vivo pela internet direto da Praça Municipal, encerrou as comemorações do Novembro Negro e contou com a presença de diversos representantes de casas religiosas e autoridades do poder público.
A pesquisa, coordenada pelo historiador Jocélio Teles, durou oito meses e foi realizada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao). O objetivo era fazer uma radiografia das casas religiosas em atividade em Salvador e na Ilha de Maré, levantando dados sócio-ambientais e culturais, além de identificar as nações de cada uma delas. Ainda assim, houve alguma resistência. “Cerca de 30 terreiros se recusaram a participar e isso ainda é um reflexo da perseguição sofrida por eles no passado”, afirmou Teles. No total, foram registrados 1.159 Terreiros, a maioria deles localizados em bairros como Plataforma, Cajazeiras, Paripe, Liberdade e Cosme de Farias.
Para o Pai Raimundo, do Centro Umbandista Paz e Justiça, iniciativas como as do mapeamento de Terreiros é a confirmação de um lugar que sempre pertenceu aos adeptos das religiões de matrizes africanas. “Não estamos pedindo nada, merecemos uma posição de destaque na sociedade e agora estamos nos aliando às novas tecnologias”, declarou. Ele ainda se queixou da falta de união entre o povo de santo. “Hoje esta praça deveria estar lotada”, concluiu.
O subsecretário da Semur, Antônio Cosme, acredita que ações originadas pela Prefeitura representam um avanço sem precedentes na história de Salvador. “O Estado sempre perseguiu o Candomblé. Hoje, esse mesmo Estado promove a reparação disponibilizando meios democráticos de acesso à informação”, disse. Para ele, um site com conteúdo afro-religioso pode despertar o interesse das comunidades pela tecnologia, minimizando a exclusão digital na capital baiana.
Para acessar o site do Mapeamento dos Terreiros, clique aqui
Foto: Tom Correia
Assinar:
Postagens (Atom)